sábado, 4 de julho de 2015

Capítulo 29

The Alchemist
O Alquimista

“Mas o quê...?”.
A cena a frente de Tristan era difícil de acreditar. Cornelius e Gabriel lutavam e, ao que tudo indicava, o alquímico estava vencendo. A armadura de cristal do Capitão tinha apenas alguns arranhões enquanto a do guerreiro da Luz estava totalmente danificada. Buracos na superfície de metal prateado sugeriam que as partes foram derretidas sem deixarem marcas de queimado. A pele de Gabriel estava exposta em alguns pontos da armadura. Alguns ferimentos provindos de cortes já marcavam e carne de um dos braços, do peitoral e até das costas. O suor escorria pelo rosto do Escolhido de Leviathan. Ele ofegava constantemente. Cornelius, por outro lado, sorria. Em seu rosto, a expressão de superioridade em relação ao oponente estava explícita. Um brilho sinistro nos olhos do guerreiro da Tiamat dava a certeza da intenção assassina dele.
“Não pode ser...”.
Em um canto da sala, Astaroth e Catherine estavam caídos, um do lado do outro. Uma poça de sangue estava bem abaixo deles. Os olhos de Astaroth estavam sem brilho. A boca dele, aberta.
“Não...”.
Em um instante, Tristan surgiu do lado dos dois. Ele tocou no rosto de Astaroth.
“Ainda está quente...”.
Tristan suspirou aliviado.
“Ele está inconsciente...seu coração ainda bate...”.
Antes que Tristan pudesse sorrir, ele olhou para o lado. Catherine estava encolhida, em posição fetal, com o rosto virado pro chão. Delicadamente, Tristan levantou a cabeça dela com a ponta dos dedos. Seus olhos estavam fechados e, o rosto, paralisado com uma expressão de dor. As mãos de Catherine cobriam a própria barriga.
Desista! A voz de Cornelius soava atrás do guerreiro das Trevas. Você não pode me vencer, brinquedinho do Lorde da Luz!
Gabriel arfava. O som das lâminas das armas dos guerreiros se chocando se espalhava pelo esconderijo que estava, por exceção dessa luta, em silêncio. Entretanto, Tristan não se virou em direção da luta. Seus olhos estavam focados na grande ferida que havia sido cicatrizada no abdômen de Catherine.
“O que aconteceu...?”
Tristan olhou para Astaroth ainda desacordado. Após um segundo, virou-se para trás.
“Não há tempo para entender o que aconteceu aqui...pelo menos, não agora”.
O guerreiro das Trevas sacou sua espada e surgiu atrás de Cornelius.
Lento de mais! O alquímico zombou.
Com um movimento rápido de sua alabarda, Cornelius desferiu um ataque horizontal, traçando um arco no ar, acertando Gabriel, que foi arremessado para trás, e a espada de Tristan, que parou o ataque.
Acho melhor você descansar agora, Gabriel. Tristan advertiu com seu tom de voz frio. Aproveite e tome conta do Astaroth e da Catherine. Os olhos vermelhos do guerreiro das Trevas brilharam ainda mais intensamente. Deixe esse aqui por minha conta.
Gabriel parecia um pouco confuso mas, após um segundo, ele assentiu com a cabeça.
Certo...farei como você quer. O guerreiro da Luz conseguiu dizer, embora ofegante. Só espero que você não cometa o mesmo erro que eu cometi.
Certo... Tristan arqueou uma sobrancelha. Que seria...?
Não o subestime. Nem por um mísero segundo. Foi assim que eu fiquei nesse estado. Foi assim que... Gabriel respirou fundo e apontou para Astaroth e Catherine do outro lado da sala. Foi assim que aquilo aconteceu. Então...
Não se preocupe comigo. Vá logo ajudar os dois.
Gabriel não contestou. Rapidamente, ele chegou aos aliados caídos e começou a usar uma magia de cura.
  Então...você derrotou Alexei, pelo visto. Cornelius disse com certa empolgação.
Sim. Tristan afirmou friamente. Caso contrário, eu não estaria aqui bem em sua frente, não?
Cornelius riu maniacamente.
Qual é a graça? Tristan indagou.
Você parece ser mais interessante do que os outros três. Cornelius respondeu. Esse seu jeito frio...faz-me crer que você possa ser um adversário digno de usar minhas habilidades. Embora você seja um tanto quanto arrogante...mas, bem, não importa. Eu também sou. O alquímico riu.
Ótimo. Então pare de falar e comece a lutar, verme.
Tristan avançou contra Cornelius. Rapidamente, o guerreiro das Trevas desferiu uma seqüência de mais de dez ataques com sua espada. Sem dificuldades, o alquímico conseguiu bloquear todos os ataques com a haste de sua alabarda. Ao conseguir uma brecha, Cornelius atacou com um ataque reto. Em uma fração de segundos, Tristan se transformou em trevas e surgiu bem atrás do adversário. Antes que o alquímico percebesse que Tristan havia desviado de seu ataque, uma explosão de energia atingiu suas costas. A espada sombria do guerreiro das Trevas parecia pulsar envolvida pela aura púrpura. A parte de trás do tronco da armadura de Cornelius havia sido dilacerada. Sangue escorria das costas do alquímico. Entretanto, ele não gritava de dor, mas sim, gargalhava maniacamente.
Esse ataque que você acabou de desferir... O alquímico riu ruidosamente. Foi ótimo! Um ataque poderoso, sem piedade! Foi simplesmente lindo! Esplêndido!
Você é louco. Tristan afirmou monotonamente.
Não, creio que não. Cornelius riu novamente. Só estou feliz de encontrar um guerreiro de verdade! Essa sensação...esse calor que provém de uma luta entre dois oponentes igualmente poderosos... Ele gargalhou. Nosso duelo será muito melhor do que o que eu tive com seus aliados. Isso é...se eu posso chamar aquilo de duelo. O alquímico falou com desdém. Três contra um? Não é assim que se trava um duelo. Ele deu de ombros. Ainda bem que eu consegui equilibrar a situação.
Como assim?
Meus dons para a alquimia vão muito além de produzir soníferos, meu caro. Cornelius invocou uma poção azul celeste e a tomou. Uma aura da mesma cor do líquido brilhou em torno dele. Ele se virou de costas para Tristan. Apesar da armadura ainda estar danificada, todas as feridas em suas costas haviam desaparecido.
Nada mal...mas...é só isso?
Mas é claro que não. Cornelius invocou outro frasco. Contemple!
O líquido roxo parecia brilhar diante dos olhos de Tristan. Com um movimento ráppido, Cornelius lançou o frasco contra Tristan. Quase hipnotizado pelo brilho do líquido, Tristan desviou do ataque por muito pouco, jogando-se para a esquerda. Onde o líquido havia tocado, um buraco começou a se abrir no chão. Após um segundo, o chão parou de ser corroído. Um buraco de cinqüenta centímetros de diâmetro estava agora ao lado do guerreiro das Trevas.
Ácido... Tristan murmurou. Isso explica os estragos feitos na armadura do Gabriel. Como você conseguiu atingir ele com um arremesso fraco desses, eu nunca vou saber.
Não se esqueça do efeito entorpecente do meu sonífero. Disse Cornelius. E também...do outro acontecimento.
Que outro acontecimento?
Bem...eu não poderia duelar naquela situação. Três contra um...não é um duelo. Sem dúvidas, eu seria derrotado naquele cenário. Obviamente, eles não aceitariam me enfrentar um de cada vez. Portanto, tive que recorrer a um recurso...que eu não gosto muito. Cornelius invocou um frasco dourado. Essa é o Berserk.
Explique melhor.
É um tipo de veneno...suponho. Nem eu sei ao certo como classificar. Seu efeito não é positivo como o de um poção ou de um elixir, mas também não é negativo como o de um veneno. O que você precisa saber, meu caro Escolhido de Nidhogg, é o que esse líquido é capaz de fazer com a mente de uma pessoa.
E o que seria exatamente?
Ele induz a sua vítima a um estado de raiva descontrolado. Aquele que é afetado pelo Berserk entrará em um estado de frenesi. Totalmente descontrolado e cheio de energia fornecida pelo líquido, sua vítima atacará qualquer um que estiver próximo, inclusive seus aliados. O efeito começa ainda mais rapidamente em indivíduos que já são propensos a agir violentamente. Advinha quem foi a vítima?
Tristan respirou fundo e olhou para os aliados no canto da sala.
A vítima do Berserk...Astaroth. O guerreiro das Trevas disse calmamente. A vítima do ataque desenfreado dele...Catherine. Aquele que teve que nocautear Astaroth...Gabriel. Aquele que ficou com a guarda baixa para seu ataque com ácido...Gabriel de novo. Aquele que te enfrentou mesmo debilitado...mais um vez, Gabriel.
Surpreendente. Cornelius admitiu. Você além de poderoso, é inteligente. Como eu. Ele sorriu. Sem sombra de dúvidas, esse duelo será sem igual!
E também será o seu último.
A espada de Tristan brilhou ainda mais intensamente. O guerreiro das Trevas correu até Cornelius. O alquímico estendeu a haste de sua alabarda para frente. Tristan desferiu um ataque vertical de cima para baixo com sua espada. As armas se chocaram. Em um instante, a espada de Tristan havia cortado a haste da alabarda de Cornelius. Antes que o alquímico pudesse fazer qualquer coisa, o guerreiro das Trevas fincou sua espada no peito dele. A armadura foi atravessada sem dificuldade. Rapidamente, Tristan retirou sua espada do peitoral do oponente. O sangue de Cornelius começou a verter. O alquímico caiu de joelhos. Ao olhar para cima, na direção do rosto do guerreiro das Trevas, Tristan desferiu um corte horizontal rápido. O ataque acertou o pescoço de Cornelius. Mais sangue jorrou de seu corpo. O alquímico caiu no chão enquanto os últimos resquícios de vida saiam de seu corpo.
“Verme...”.
Tristan se dirigiu aos aliados.
Gabriel. O guerreiro das Trevas chamou. Como eles...?

A expressão do guerreiro da Luz era de tristeza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário