The Alchemist
O
Alquimista
“Mas o quê...?”.
A cena a frente de Tristan era
difícil de acreditar. Cornelius e Gabriel lutavam e, ao que tudo indicava, o
alquímico estava vencendo. A armadura de cristal do Capitão tinha apenas alguns
arranhões enquanto a do guerreiro da Luz estava totalmente danificada. Buracos
na superfície de metal prateado sugeriam que as partes foram derretidas sem
deixarem marcas de queimado. A pele de Gabriel estava exposta em alguns pontos
da armadura. Alguns ferimentos provindos de cortes já marcavam e carne de um
dos braços, do peitoral e até das costas. O suor escorria pelo rosto do
Escolhido de Leviathan. Ele ofegava constantemente. Cornelius, por outro lado,
sorria. Em seu rosto, a expressão de superioridade em relação ao oponente
estava explícita. Um brilho sinistro nos olhos do guerreiro da Tiamat dava a
certeza da intenção assassina dele.
“Não pode ser...”.
Em um canto da sala, Astaroth e
Catherine estavam caídos, um do lado do outro. Uma poça de sangue estava bem
abaixo deles. Os olhos de Astaroth estavam sem brilho. A boca dele, aberta.
“Não...”.
Em um instante, Tristan surgiu
do lado dos dois. Ele tocou no rosto de Astaroth.
“Ainda está quente...”.
Tristan suspirou aliviado.
“Ele está inconsciente...seu
coração ainda bate...”.
Antes que Tristan pudesse
sorrir, ele olhou para o lado. Catherine estava encolhida, em posição fetal,
com o rosto virado pro chão. Delicadamente, Tristan levantou a cabeça dela com
a ponta dos dedos. Seus olhos estavam fechados e, o rosto, paralisado com uma
expressão de dor. As mãos de Catherine cobriam a própria barriga.
—
Desista! — A voz de
Cornelius soava atrás do guerreiro das Trevas. —
Você não pode me vencer, brinquedinho do Lorde da Luz!
Gabriel arfava. O som das
lâminas das armas dos guerreiros se chocando se espalhava pelo esconderijo que
estava, por exceção dessa luta, em silêncio. Entretanto, Tristan não se virou
em direção da luta. Seus olhos estavam focados na grande ferida que havia sido
cicatrizada no abdômen de Catherine.
“O que aconteceu...?”
Tristan olhou para Astaroth
ainda desacordado. Após um segundo, virou-se para trás.
“Não há tempo para entender o
que aconteceu aqui...pelo menos, não agora”.
O guerreiro das Trevas sacou
sua espada e surgiu atrás de Cornelius.
—
Lento de mais! — O
alquímico zombou.
Com um movimento rápido de sua
alabarda, Cornelius desferiu um ataque horizontal, traçando um arco no ar, acertando
Gabriel, que foi arremessado para trás, e a espada de Tristan, que parou o
ataque.
—
Acho melhor você descansar agora, Gabriel. —
Tristan advertiu com seu tom de voz frio. —
Aproveite e tome conta do Astaroth e da Catherine. — Os olhos vermelhos do guerreiro das Trevas
brilharam ainda mais intensamente. —
Deixe esse aqui por minha conta.
Gabriel parecia um pouco
confuso mas, após um segundo, ele assentiu com a cabeça.
—
Certo...farei como você quer. —
O guerreiro da Luz conseguiu dizer, embora ofegante. — Só espero que você não cometa o mesmo erro
que eu cometi.
—
Certo... — Tristan
arqueou uma sobrancelha. —
Que seria...?
—
Não o subestime. Nem por um mísero segundo. Foi assim que eu fiquei nesse
estado. Foi assim que... —
Gabriel respirou fundo e apontou para Astaroth e Catherine do outro lado da
sala. — Foi assim que
aquilo aconteceu. Então...
—
Não se preocupe comigo. Vá logo ajudar os dois.
Gabriel não contestou.
Rapidamente, ele chegou aos aliados caídos e começou a usar uma magia de cura.
—
Então...você derrotou Alexei, pelo visto. —
Cornelius disse com certa empolgação.
—
Sim. — Tristan
afirmou friamente. —
Caso contrário, eu não estaria aqui bem em sua frente, não?
Cornelius riu maniacamente.
—
Qual é a graça? —
Tristan indagou.
—
Você parece ser mais interessante do que os outros três. — Cornelius respondeu. — Esse seu jeito
frio...faz-me crer que você possa ser um adversário digno de usar minhas
habilidades. Embora você seja um tanto quanto arrogante...mas, bem, não
importa. Eu também sou. —
O alquímico riu.
—
Ótimo. Então pare de falar e comece a lutar, verme.
Tristan avançou contra
Cornelius. Rapidamente, o guerreiro das Trevas desferiu uma seqüência de mais
de dez ataques com sua espada. Sem dificuldades, o alquímico conseguiu bloquear
todos os ataques com a haste de sua alabarda. Ao conseguir uma brecha,
Cornelius atacou com um ataque reto. Em uma fração de segundos, Tristan se
transformou em trevas e surgiu bem atrás do adversário. Antes que o alquímico percebesse
que Tristan havia desviado de seu ataque, uma explosão de energia atingiu suas
costas. A espada sombria do guerreiro das Trevas parecia pulsar envolvida pela
aura púrpura. A parte de trás do tronco da armadura de Cornelius havia sido
dilacerada. Sangue escorria das costas do alquímico. Entretanto, ele não
gritava de dor, mas sim, gargalhava maniacamente.
—
Esse ataque que você acabou de desferir... —
O alquímico riu ruidosamente. —
Foi ótimo! Um ataque poderoso, sem piedade! Foi simplesmente lindo! Esplêndido!
—
Você é louco. — Tristan
afirmou monotonamente.
—
Não, creio que não. —
Cornelius riu novamente. —
Só estou feliz de encontrar um guerreiro de verdade! Essa sensação...esse calor
que provém de uma luta entre dois oponentes igualmente poderosos... — Ele gargalhou. — Nosso duelo será muito
melhor do que o que eu tive com seus aliados. Isso é...se eu posso chamar
aquilo de duelo. — O
alquímico falou com desdém. —
Três contra um? Não é assim que se trava um duelo. — Ele deu de ombros. — Ainda bem que eu consegui equilibrar a situação.
—Como
assim?
—
Meus dons para a alquimia vão muito além de produzir soníferos, meu caro. — Cornelius invocou uma
poção azul celeste e a tomou. Uma aura da mesma cor do líquido brilhou em torno
dele. Ele se virou de costas para Tristan. Apesar da armadura ainda estar
danificada, todas as feridas em suas costas haviam desaparecido.
—
Nada mal...mas...é só isso?
—
Mas é claro que não. —
Cornelius invocou outro frasco. —
Contemple!
O líquido roxo parecia brilhar
diante dos olhos de Tristan. Com um movimento ráppido, Cornelius lançou o
frasco contra Tristan. Quase hipnotizado pelo brilho do líquido, Tristan
desviou do ataque por muito pouco, jogando-se para a esquerda. Onde o líquido
havia tocado, um buraco começou a se abrir no chão. Após um segundo, o chão
parou de ser corroído. Um buraco de cinqüenta centímetros de diâmetro estava
agora ao lado do guerreiro das Trevas.
—
Ácido... — Tristan
murmurou. — Isso
explica os estragos feitos na armadura do Gabriel. Como você conseguiu atingir
ele com um arremesso fraco desses, eu nunca vou saber.
—
Não se esqueça do efeito entorpecente do meu sonífero. — Disse Cornelius. —E também...do outro acontecimento.
—
Que outro acontecimento?
—
Bem...eu não poderia duelar naquela situação. Três contra um...não é um duelo.
Sem dúvidas, eu seria derrotado naquele cenário. Obviamente, eles não
aceitariam me enfrentar um de cada vez. Portanto, tive que recorrer a um
recurso...que eu não gosto muito. —
Cornelius invocou um frasco dourado. —
Essa é o Berserk.
—
Explique melhor.
—
É um tipo de veneno...suponho. Nem eu sei ao certo como classificar. Seu efeito
não é positivo como o de um poção ou de um elixir, mas também não é negativo
como o de um veneno. O que você precisa saber, meu caro Escolhido de Nidhogg, é
o que esse líquido é capaz de fazer com a mente de uma pessoa.
—
E o que seria exatamente?
—
Ele induz a sua vítima a um estado de raiva descontrolado. Aquele que é
afetado pelo Berserk entrará em um estado de frenesi. Totalmente descontrolado
e cheio de energia fornecida pelo líquido, sua vítima atacará qualquer um que
estiver próximo, inclusive seus aliados. O efeito começa ainda mais rapidamente
em indivíduos que já são propensos a agir violentamente. Advinha quem foi a
vítima?
Tristan respirou fundo e olhou
para os aliados no canto da sala.
—
A vítima do Berserk...Astaroth. —
O guerreiro das Trevas disse calmamente. —
A vítima do ataque desenfreado dele...Catherine. Aquele que teve que nocautear
Astaroth...Gabriel. Aquele que ficou com a guarda baixa para seu ataque com ácido...Gabriel
de novo. Aquele que te enfrentou mesmo debilitado...mais um vez, Gabriel.
—
Surpreendente. —
Cornelius admitiu. —
Você além de poderoso, é inteligente. Como eu. —
Ele sorriu. — Sem
sombra de dúvidas, esse duelo será sem igual!
—
E também será o seu último.
A espada de Tristan brilhou
ainda mais intensamente. O guerreiro das Trevas correu até Cornelius. O
alquímico estendeu a haste de sua alabarda para frente. Tristan desferiu um
ataque vertical de cima para baixo com sua espada. As armas se chocaram. Em um
instante, a espada de Tristan havia cortado a haste da alabarda de Cornelius.
Antes que o alquímico pudesse fazer qualquer coisa, o guerreiro das Trevas
fincou sua espada no peito dele. A armadura foi atravessada sem dificuldade.
Rapidamente, Tristan retirou sua espada do peitoral do oponente. O sangue de
Cornelius começou a verter. O alquímico caiu de joelhos. Ao olhar para cima, na
direção do rosto do guerreiro das Trevas, Tristan desferiu um corte horizontal
rápido. O ataque acertou o pescoço de Cornelius. Mais sangue jorrou de seu
corpo. O alquímico caiu no chão enquanto os últimos resquícios de vida saiam de
seu corpo.
“Verme...”.
Tristan se dirigiu aos aliados.
—
Gabriel. — O
guerreiro das Trevas chamou. —
Como eles...?
A expressão do guerreiro da Luz
era de tristeza.
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