Antes da Tempestade
O céu turquesa do continente de Morning Star parecia
ainda mais belo naquela noite. Pelas janelas dos aviões militares, muitos
soldados olhavam para o horizonte. Alguns, é claro, estavam nervosos com a
batalha que viria a seguir. Mas aquilo era uma guerra. Se eles quisessem ver o
fim daquilo, eles deveriam lutar.
— Isso
me lembra da primeira missão que você comandou, Moss. — Disse Rick com um sorriso.
A equipe
havia se dividido em três aviões de acordo com suas funções. Assim, Greyman,
Moss e Andersen, responsáveis pela linha de frente, estavam juntos. Todos já
estavam armados para a batalha.
Thomas
e Victor não conseguiram conter um sorriso ao ouvir o comentário do amigo.
— Você está
certo. — Concordou
Commando. — Tem algo no
ar... Não sei o que é, mas...
— É igual àquela
vez. — Completou
Victor. — Igual aquele
dia de dois anos atrás...
Moss
riu baixo e disse:
— Aquilo ainda
parece loucura. Eu, com dezesseis anos, liderando uma tropa...
— Mais
especificamente, uma tropa com pessoas que tinham até o dobro da sua idade. — O Gunslinger riu. — E, é claro, alguns mais novos também.
Rick
olhou para Victor. Ambos sorriram ao se lembrar de que lutavam lado a lado sob
as ordens de Thomas. Então, o sorriso se desfez. Afinal, nem tudo sobre aquele
dia havia sido tão bom. A primeira vez no campo de batalha os havia marcado.
É
claro que aquilo não era exclusividade dos dois. Muitos outros soldados,
inclusive os guerreiros da Iniciativa Excalibur, já tinham visto os horrores do
campo de batalha em outras ocasiões. E, quando mais precisaram, tiveram a ajuda
de seus amigos.
Eram
essas amizades que lhes haviam salvado as vidas em múltiplas ocasiões. Por isso
que eles sorriam com algumas lembranças. E também era por isso que suas faces
se tornavam sérias quando se lembravam de outros eventos.
Os
ventos sopravam mais fortes. O tempo prometia mudanças. Porém, não seria tão
cedo.
— Espero não ter
que te carregar nas minhas costas. — Disse Jerry
num tom brincalhão.
Fey
conversava com Sandy Hunter. Os dois eram, sem dúvida, os que tinham mais
proximidade entre os quatro amigos. A garota parecia ter mais intimidade com o
amigo do que com o próprio irmão. É claro que a origem dos irmãos era um
assunto, no mínimo, complicado.
— Até parece. — Sandy riu. — Você é que vai ter que se preocupar para não ficar para trás,
Chameleon.
Os
dois riram.
— Será que esses
apelidos vão pegar? — Indagou Sandy.
— Talvez, minha
cara Fox. — Sorriu Jerry. —Mas acho que vai depender muito do nosso
desempenho nessa missão...
— É... Seria bom
conseguirmos um pouco de reconhecimento, não?
— Claro que sim.
Nosso desempenho é muito melhor do que o de muitos guerreiros da Excalibur que,
sei lá como, chegaram onde chegaram. — Ele bufou. — Eu só...
Sandy
apoiou uma mão no ombro de Fey e, com um sorriso caloroso, disse:
— Eu sei como
você se sente, Jerry. Aliás... — Ela olhou
rapidamente a sua volta. O garoto fez o mesmo. — Todos os que estão aqui são muito bom no que fazem, mas, para
seus superiores e para o povo que eles arriscam a vida pra proteger, eles só
são mais um desconhecido. Um número qualquer...
Jerry
parou pensativo. Após alguns instantes, sem olhar para a amiga ele disse:
— Eu já estava
com um pouco de saudade desse seu lado filosófico, Fox.
Sandy
riu baixo e, após sorrir docemente, disse:
— Não posso
abusar de meus poderes, Chameleon.
Fey
deu de ombros e suspirou antes de dizer:
— Se mais
pessoas soubessem o quão inteligente você é, não te tratariam só como se fosse
um rostinho bonito.
— Talvez. — Admitiu Sandy. — Mas talvez eu não queira ser amiga dessas
pessoas. Pelo menos, não como eu sou sua amiga.
Jerry
apenas sorriu. Nenhum dos dois disse mais nada por alguns instantes. Afinal,
nenhum dos dois sentiu necessário dizer qualquer coisa.
Enquanto
olhavam por uma janela, Fey perguntou:
— Lembra-se da
primeira vez que viemos juntos para uma missão?
— Como eu
poderia me esquecer? — Sandy
suspirou. — Eu estava tão
ansiosa quanto hoje... — O sorriso de
seu rosto desapareceu. — Só espero que
não aconteça...
— Eu também. — Concordou Jerry.
Ele
não deixou a amiga terminar a frase. Porém, não era preciso. Os dois se
lembravam muito bem do que acontecia. E Jerry, acima de qualquer outra pessoa,
não queria ficar falando sobre aquilo.
Os
aviões se aproximavam de seus destinos. Em breve, eles aterrissariam próximos da
base da Mjolnir, como planejado. A camuflagem dos veículos impediria qualquer
detecção por meio de radares. Porém, caso se aproximassem muito do local, o som
dos motores seria mais o que suficiente para alertarem de sua presença. A
invasão não seria exatamente silenciosa, porém um elemento surpresa seria bom,
principalmente para as tropas de Camelot se organizarem melhor.
O
tempo mudava. O céu noturno límpido tinha, agora, algumas nuvens. Os ventos
ficavam mais fortes. Um trovão pôde ser ouvido ao longe.
Nick
não havia sequer trocado olhares com Edith a viagem inteira. Não que ela se
incomodasse. Deadeye preferia ficar ouvindo música, sentada longe dos outros,
antes de uma missão. Isso a ajudava a se concentrar.
“A
Deadeye é uma inspiração, não acha?”.
Isso,
ou algo parecido, sempre era dito por algum atirador de elite de Camelot,
principalmente para os guerreiros da Excalibur, em especial dentre as garotas.
Aquilo simplesmente irritava Nick Hunter. Afinal, dentro daquele avião a
conversa não era muito diferente. Irritado, o jovem terminava qualquer conversa
rapidamente quando falavam algo sobre o quão maravilhosa Edith era como
atiradora.
Limpando
o rifle em suas mãos delicadamente com um pedaço de pano branco, Nick tentava
manter o foco. Ele não podia ser apenas um bom atirador: ele tinha que ser o
melhor. Afinal, ele não se perdoaria se ele perdesse mais alguém que ele
amasse. Pelo menos, não se sua incompetência fosse a causadora disso.
Os
aviões se aproximavam de seus destinos.
Os
soldados respiravam fundo. Alguns murmuravam com os amigos, desejando boa sorte
ou pensando no que fariam na volta. Outros rezavam. Outros, ainda, não pareciam
prontos. Mas não havia mais tempo.
Os
aviões se aproximaram do solo. As portas traseiras dos veículos se abriram. Os
soldados pularam e abriram seus pára-quedas.
A
poucos metros do solo rochoso e esbranquiçado, mais imagens vinham a mente dos
soldados. Balançando a cabeça de um lado para o outro, eles tentavam se focar
na missão.
Porém,
o medo crescia dentro do coração de alguns.
Victor,
Nick, Sandy, Jerry, Thomas, Rick e até mesmo Edith. Todos tinham um mau
pressentimento sobre o que viria.
O
céu, agora coberto de nuvens púrpuras, rugia com trovões.
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