terça-feira, 14 de julho de 2015

Morning Star, Capítulo 3

Antes da Tempestade


O céu turquesa do continente de Morning Star parecia ainda mais belo naquela noite. Pelas janelas dos aviões militares, muitos soldados olhavam para o horizonte. Alguns, é claro, estavam nervosos com a batalha que viria a seguir. Mas aquilo era uma guerra. Se eles quisessem ver o fim daquilo, eles deveriam lutar.
Isso me lembra da primeira missão que você comandou, Moss. Disse Rick com um sorriso.
A equipe havia se dividido em três aviões de acordo com suas funções. Assim, Greyman, Moss e Andersen, responsáveis pela linha de frente, estavam juntos. Todos já estavam armados para a batalha.
Thomas e Victor não conseguiram conter um sorriso ao ouvir o comentário do amigo.
Você está certo. Concordou Commando. Tem algo no ar... Não sei o que é, mas...
É igual àquela vez. Completou Victor. Igual aquele dia de dois anos atrás...
Moss riu baixo e disse:
Aquilo ainda parece loucura. Eu, com dezesseis anos, liderando uma tropa...
Mais especificamente, uma tropa com pessoas que tinham até o dobro da sua idade. O Gunslinger riu. E, é claro, alguns mais novos também.
Rick olhou para Victor. Ambos sorriram ao se lembrar de que lutavam lado a lado sob as ordens de Thomas. Então, o sorriso se desfez. Afinal, nem tudo sobre aquele dia havia sido tão bom. A primeira vez no campo de batalha os havia marcado.
É claro que aquilo não era exclusividade dos dois. Muitos outros soldados, inclusive os guerreiros da Iniciativa Excalibur, já tinham visto os horrores do campo de batalha em outras ocasiões. E, quando mais precisaram, tiveram a ajuda de seus amigos.
Eram essas amizades que lhes haviam salvado as vidas em múltiplas ocasiões. Por isso que eles sorriam com algumas lembranças. E também era por isso que suas faces se tornavam sérias quando se lembravam de outros eventos.
Os ventos sopravam mais fortes. O tempo prometia mudanças. Porém, não seria tão cedo.
Espero não ter que te carregar nas minhas costas. Disse Jerry num tom brincalhão.
Fey conversava com Sandy Hunter. Os dois eram, sem dúvida, os que tinham mais proximidade entre os quatro amigos. A garota parecia ter mais intimidade com o amigo do que com o próprio irmão. É claro que a origem dos irmãos era um assunto, no mínimo, complicado.
Até parece. Sandy riu. Você é que vai ter que se preocupar para não ficar para trás, Chameleon.
Os dois riram.
Será que esses apelidos vão pegar? Indagou Sandy.
Talvez, minha cara Fox. Sorriu Jerry. Mas acho que vai depender muito do nosso desempenho nessa missão...
É... Seria bom conseguirmos um pouco de reconhecimento, não?
Claro que sim. Nosso desempenho é muito melhor do que o de muitos guerreiros da Excalibur que, sei lá como, chegaram onde chegaram. Ele bufou. Eu só...
Sandy apoiou uma mão no ombro de Fey e, com um sorriso caloroso, disse:
Eu sei como você se sente, Jerry. Aliás... Ela olhou rapidamente a sua volta. O garoto fez o mesmo. Todos os que estão aqui são muito bom no que fazem, mas, para seus superiores e para o povo que eles arriscam a vida pra proteger, eles só são mais um desconhecido. Um número qualquer...
Jerry parou pensativo. Após alguns instantes, sem olhar para a amiga ele disse:
Eu já estava com um pouco de saudade desse seu lado filosófico, Fox.
Sandy riu baixo e, após sorrir docemente, disse:
Não posso abusar de meus poderes, Chameleon.
Fey deu de ombros e suspirou antes de dizer:
Se mais pessoas soubessem o quão inteligente você é, não te tratariam só como se fosse um rostinho bonito.
Talvez. Admitiu Sandy. Mas talvez eu não queira ser amiga dessas pessoas. Pelo menos, não como eu sou sua amiga.
Jerry apenas sorriu. Nenhum dos dois disse mais nada por alguns instantes. Afinal, nenhum dos dois sentiu necessário dizer qualquer coisa.
Enquanto olhavam por uma janela, Fey perguntou:
Lembra-se da primeira vez que viemos juntos para uma missão?
Como eu poderia me esquecer? Sandy suspirou. Eu estava tão ansiosa quanto hoje... O sorriso de seu rosto desapareceu. Só espero que não aconteça...
Eu também. Concordou Jerry.
Ele não deixou a amiga terminar a frase. Porém, não era preciso. Os dois se lembravam muito bem do que acontecia. E Jerry, acima de qualquer outra pessoa, não queria ficar falando sobre aquilo.
Os aviões se aproximavam de seus destinos. Em breve, eles aterrissariam próximos da base da Mjolnir, como planejado. A camuflagem dos veículos impediria qualquer detecção por meio de radares. Porém, caso se aproximassem muito do local, o som dos motores seria mais o que suficiente para alertarem de sua presença. A invasão não seria exatamente silenciosa, porém um elemento surpresa seria bom, principalmente para as tropas de Camelot se organizarem melhor.
O tempo mudava. O céu noturno límpido tinha, agora, algumas nuvens. Os ventos ficavam mais fortes. Um trovão pôde ser ouvido ao longe.
Nick não havia sequer trocado olhares com Edith a viagem inteira. Não que ela se incomodasse. Deadeye preferia ficar ouvindo música, sentada longe dos outros, antes de uma missão. Isso a ajudava a se concentrar.
“A Deadeye é uma inspiração, não acha?”.
Isso, ou algo parecido, sempre era dito por algum atirador de elite de Camelot, principalmente para os guerreiros da Excalibur, em especial dentre as garotas. Aquilo simplesmente irritava Nick Hunter. Afinal, dentro daquele avião a conversa não era muito diferente. Irritado, o jovem terminava qualquer conversa rapidamente quando falavam algo sobre o quão maravilhosa Edith era como atiradora.
Limpando o rifle em suas mãos delicadamente com um pedaço de pano branco, Nick tentava manter o foco. Ele não podia ser apenas um bom atirador: ele tinha que ser o melhor. Afinal, ele não se perdoaria se ele perdesse mais alguém que ele amasse. Pelo menos, não se sua incompetência fosse a causadora disso.
Os aviões se aproximavam de seus destinos.
Os soldados respiravam fundo. Alguns murmuravam com os amigos, desejando boa sorte ou pensando no que fariam na volta. Outros rezavam. Outros, ainda, não pareciam prontos. Mas não havia mais tempo.
Os aviões se aproximaram do solo. As portas traseiras dos veículos se abriram. Os soldados pularam e abriram seus pára-quedas.  
A poucos metros do solo rochoso e esbranquiçado, mais imagens vinham a mente dos soldados. Balançando a cabeça de um lado para o outro, eles tentavam se focar na missão.
Porém, o medo crescia dentro do coração de alguns.
Victor, Nick, Sandy, Jerry, Thomas, Rick e até mesmo Edith. Todos tinham um mau pressentimento sobre o que viria.

O céu, agora coberto de nuvens púrpuras, rugia com trovões.

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