The End of the Mission
O
Fim da Missão
Astaroth olhou para Tristan.
—
Eu...não... — A voz
do Demônio soava quase como um sussurro. —
Eu não pude me controlar... —
Ele olhou para Gabriel. —
Desculpe-me.
O guerreiro da Luz olhou para
Catherine. Mesmo sem vida, seu rosto agora estava sereno.
—
Não se desculpe. —
Gabriel disse friamente. —
Isso não vai trazer Catherine de volta. —
O guerreiro da Luz sacou sua espada e tocou a parte de baixo do queixo de
Astaroth. — Então...
—
Gabriel...? — Tristan
indagou. Rapidamente sua expressão mudou de confusão para medo. — Não faça isso!
—
Recomponha-se! — O
Escolhido de Leviathan bradou. Sua voz parecia se propagar por todo o
esconderijo, fazendo com que as paredes vibrassem.
A expressão no rosto de Tristan
agora era de surpresa. O guerreiro da Luz desfez sua espada em luz.
—
Você já temia o pior, não? —
Gabriel perguntou com a mesma voz séria. —
E...não. Eu já sei a resposta, então, você não precisa responder.
Tristan suspirou aliviado.
Astaroth ainda parecia perdido.
—
Pense bem, Demônio. —
Gabriel continuou. —
Você realmente acha que você e Catherine poderiam...? — O guerreiro da Luz riu. — A ideia é tão ridícula
que eu não consigo dizer sem rir.
Astaroth olhava em direção ao
chão. Seus olhos completamente verdes outrora brilhantes e ameaçadores estavam
quase opacos agora.
—
Acho que já é o suficiente, Gabriel. —
Tristan disse. —
Deixe que ele...
—
Você realmente acha que agora é o momento para ser sentimental ou até condescendente?
— O Escolhido de
Leviathan questionou. —
Nós temos uma missão a cumprir. Esse tem que ser o nosso foco. Caso queira se
lamentar pela morte de alguém, que faça isso depois. Baixas podem ser
consideradas banais em operações de alto risco como esta. Bem...talvez até,
nesse caso pudesse ser evitada, mas não tenho como saber e, muito menos, não
tenho como mudar o passado.
Tristan abriu a boca, mas
nenhum som saiu.
—
Não sabe o que dizer, não é? —
Gabriel lançou uma retórica. —
Não se preocupe com isso. Como eu disse
há pouco, preocupe-se com a missão. Por isso, tente pensar em um meio de
conseguir a maldita informação.
—
Informação...? —
Tristan parecia confuso.
“Não...”.
O guerreiro das Trevas olhou
para o corpo morto de Cornelius no chão. O alquímico estava caído com o rosto
em cima de uma poça de seu próprio sangue.
—
Todos vocês, seres das Trevas, são assim? —
Gabriel indagou. —Todos
vocês se deixam levar pelas suas emoções tão facilmente? Um mata uma aliada e,
quando percebe o que fez, cai em um estado de depressão. O outro, tomado por um
espírito vingativo, resolve matar o inimigo que deveria ser mantido vivo para
interrogatório. — O
guerreiro da Luz bufou. —
Simplesmente patético.
Tristan se ajoelhou no chão ao
lado de Astaroth. Ambos tinham a mesma expressão devastada estampada em seus
rostos.
—
Vocês são simplesmente patéticos. —
Gabriel invocou sua espada e apontou entre os olhos do guerreiro das Trevas. — Você...o que pretende
fazer agora? Vai lamentar o fracasso da missão junto a seu amigo de luto?
—
Não. — Tristan
respondeu com um murmúrio.
—
Então...? O que você pretende fazer?
—
Deixe-me pensar.
—
Ótimo.
Gabriel fez com que sua espada
desaparecesse e se sentou no chão a frente de Tristan. Após alguns segundos,
Tristan abriu a boca.
—
Sim? — O Escolhido de
Leviathan encarava o guerreiro das Trevas.
—
Deve haver em algum lugar do esconderijo... —
Tristan murmurou enquanto ainda formulava as idéias. — A Tiamat. Eles devem ter algum lugar dentro
desse esconderijo onde são mantidas informações importantes como essa. Seguindo
mais a fundo desse lugar...nós temos que explorar o...
—
Não.
Tristan arqueou uma
sobrancelha.
—
Como assim não? — A
voz do guerreiro das Trevas agora pesava com certa raiva. — Você tem alguma idéia
melhor do que só ser pessimista?
—
O plano é bom. —
Gabriel se defendeu. —
Eu só não concordo quanto a você e eu vasculharmos esse lugar juntos.
—
Como...?
—
Eu. Faço. Isso. Sozinho.
—
Mas...
—
Eu posso fazer isso mais rápido sem sua ajuda. —
Gabriel sorriu para Tristan. —
Seja sincero consigo mesmo. Você, nesse estado alterado e, diga-se de passagem,
lamentável, só me atrapalharia. Aproveite e descanse junto ao seu amigo
depressivo.
O guerreiro da Luz se virou e
seguiu por uma porta do outro lado da sala. Astaroth ainda estava com o olhar
perdido. Tristan respirou fundo.
—
Mas que dia, hein? —
O Demônio conseguiu falar antes que o guerreiro. —
Tínhamos uma missão para cumprir. Não parecia tão difícil assim. Sinceramente,
minha certeza é que cooperar com os nossos amiguinhos da Luz seria a parte mais
difícil. — Astaroth
sorriu. — Eu estava
certo. — Ele respirou
fundo. — Eu e a
Catherine...a gente não se deu nem um pouco bem no começo. Ela parecia certinha
demais, sabe? Mas ai...a luta começou. Eu me entrosei com ela de um jeito
que...bem, eu nunca havia me entrosado tão bem com ninguém assim durante alguma
luta. E...nossa, logo na primeira luta...nós realmente nos entrosamos. Aquele
sentimento de indiferença e insegurança...sumiu. Eu estava realmente feliz. E
ela...também. Tenho certeza disso. —
Ele suspirou. — Mas
ai...
—
Astaroth...não foi sua culpa. —
Tristan disse. — A
culpa foi do Cornelius. Foi o Berserk dele que fez isso com você.
—
Eu sei. Eu senti o efeito daquela...coisa. Eu senti uma vontade de matar
qualquer um que aparecesse na minha frente. Não que eu já não sinta isso
naturalmente, mas...dessa vez, eu não pude me controlar. Eu não...mandava em
mim mesmo. Mas era eu que ainda estava ali. Eu vi Catherine na minha frente. Eu
senti meus pés tocando o chão a cada passo que eu dava. Eu vi a expressão no
rosto dela. Medo. Desespero. Ela estava indefesa. Gabriel não me alcançaria a
tempo. Minha mente...eu não queria ver nada daquilo...mas eu conseguia. — Astaroth colocou sua mão
direita no rosto. —
Eu senti minhas garras atravessando a barriga dela. Eu senti o sangue dela
correndo pelo meu braço. Eu queria chorar ou me jogar no chão...ou talvez os
dois. Mas eu não conseguia. A última coisa que eu me lembro enquanto estava sob
o efeito daquela maldição...foi uma forte luz me atingindo. Quase que eu fico
cego...mas eu queria agradecer. Eu queria agradecer o Gabriel. Foi ele quem me
parou. Foi ele quem me salvou.
—
Astaroth... — Tristan
sorriu. — Eu nem
sabia que você tinha esse lado sentimental.
—
Pois é. — O Demônio
sorriu. Seus olhos pareciam ter recuperado um pouco do brilho. — Eu não sou sensacional
todo o tempo. Eu tenho meus momentos de fraqueza também.
—
Somos todos assim.
—
Até os deuses?
—
Acho que sim. Mas depois de cinco mil anos de existência...não acho que existam
muitas coisas capazes de quebrá-los emocionalmente.
Astaroth riu.
—
Fazer um deus chorar... — O Demônio se levantou e
se voltou para o amigo. —
Isso sim seria incrível!
Tristan sorriu.
—
É...acho que tenho um novo objetivo de vida. —Tristan
se levantou.
Rapidamente, Astaroth abraçou o
guerreiro das Trevas.
—
Bem... — Tristan
murmurou.
—
Certo! — Astaroth
soltou o aliado. —
Desculpe-me. Acabei ficando meio emotivo. Não se preocupe. Amanhã já estarei de
volta ao meu normal...eu espero.
—
Ótimo. Já estou com saudades do Demônio que mata exército usando as próprias
mãos.
—
Tudo isso com um belo sorriso no rosto.
—
Exatamente. — Tristan
riu. — Nunca achei
que eu teria uma conversa dessas com você.
—
É...eu nunca achei que eu estaria envolvido em uma conversa dessas...a menos
que surgir das sombras e matar duas pessoas que estejam tendo uma conversa
dessas conte como estar envolvido.
Tristan e Astaroth riram
juntos.
—
Bom ver que os dois estão mãos animados. —
Disse Gabriel.
O guerreiro da Luz caminhou até
os dois. Ele carregava em uma das mãos alguns papéis amassados.
—
Pelo visto...agora temos a nossa informação. —
Tristan arriscou.
—
Obviamente. — O tom
de voz de Gabriel estava um pouco mais suave em relação ao de antes de ir
procurar a informação. —
Estou quase sorrindo. Quase.
—
O que diz ai? —
Astaroth perguntou.
—
Algumas informações básicas sobre os nossos inimigos bárbaros. — O guerreiro da Luz
respondeu. — As
Terras do Norte são muito extensas. São compostas por muitos reinos. Existem
muitas diferenças entre eles, o que os levam a guerrear entre si muitas vezes.
Nada muito aparente para nós, que não somos nativos. Pequenas diferenças no
vocabulário, nos sotaques ou nos costumes. Realmente, não importa muito para
nós.
—
A não ser pela localização deles, não é? —
Tristan perguntou.
Gabriel assentiu com a cabeça.
—
Nós temos um mapa da região agora. —
Gabriel sorriu. —
Temos, inclusive, pontos de referencia. Não será difícil chegar até lá agora.
Precisaremos apenas de bons agentes para traçar uma rota segura até o local. Deveremos
mobilizar nossas tropas até esse reino em específico. Isbjerg . — O guerreiro La Luz sorriu
novamente, porém, dessa vez, mais malignamente. —
Mataremos o seu líder e, então, marcharemos sobre a capital do reino.
—
Parece bem divertido. —
Astaroth sorriu maniacamente.
—
Sim. — Gabriel
concordou. — Mas
ainda temos que terminar de planejar o ataque. Precisaremos da aprovação dos
dois lordes, além de alguns conselheiros. Por hora... — Ele olhou para o corpo de Catherine no chão
ao lado de Astaroth.
O guerreiro da Luz não precisou
dizer nada. O Demônio, delicadamente, ergueu o corpo de Catherine e a segurou
perto de seu corpo. Os dois braços de Astaroth estavam estendidos para que ele
pudesse segurar a seguidora da Luz. Ele olhava com pesar para ela, mas agora
conseguia esboçar um sorriso.
—
Um enterro. —
Astaroth disse. —
Parece que é o certo a se fazer, não é?
—
Sim. — O guerreiro da
Luz afirmou. — Com o
direito as mais altas honras, principalmente pela missão ter sido concluída com
sucesso.
Os três aliados se aproximaram.
—
Vamos para a cidade de Leviathan. —
Gabriel disse. —
Precisarei de parte de sua energia, Tristan.
O guerreiro das Trevas assentiu
com a cabeça.
—
Só me mostre o caminho até lá.
Gabriel assentiu. Com uma
mistura de luz e trevas, os quatro aliados sumiram rumo à capital do Reino da
Luz.
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