Julgamento
—
Mate-o. — Falei,
olhando diretamente para a mulher. —
Se vingança é o que você deseja, eu não te negarei isso.
A mulher olhou para mim, um pouco surpresa. Porém, em um
instante, um largo sorriso surgiu em seu rosto deteriorado.
Aterrorizado, Eric olhou para mim. Ele não queria acreditar
no que eu havia dito.
—
Jack... — Fields
balbuciou. — Você
não... Você não pode...
Eu não disse nada. Apenas olhei Eric diretamente nos
olhos. Desespero começou a tomar conta de sua face. Em poucos instantes, ele
havia começado a rir nervosamente, quase como um louco.
Aos poucos, a mulher se aproximou de Eric. Quando ela
tocou nos ombros dele, Fields parou de rir. Enquanto uma lágrima escorria por
seu rosto, um nevoeiro cinzento começou a se formar dentro do local.
Aos poucos, a névoa cinza foi envolvendo o corpo da
mulher. Como seda, ela a vestiu. Em poucos segundos, as roupas surradas foram
substituídas por um vestido de noiva, com véu incluso, feito de fumaça cinzenta.
—
Eric Fields... — A
mulher disse o nome do homem delicadamente em sua orelha esquerda. — Responda-me: o quão linda
eu fiquei assim?
Eric tremia de medo. Ao virar-se e olhar para o rosto da
mulher, seu rosto se retorceu de pavor.
O único olho de sua antiga amada brilhava, agora,
intensamente com uma cor escarlate. A boca da mulher se abriu além do
humanamente possível.
Nesse instante, eu virei as costas para os dois. Não
precisava ver aquela cena para saber o que acontecia.
Enquanto eu descia lentamente aquelas escadas, sem saber
qual seria o meu destino, ouvi os gritos de desespero de Fields enquanto sua
pele era rasgada. O som do sangue dele acertando o chão também não era fácil de
se esquecer. O sangue descendo pelos degraus junto comigo também não podiam ser
ignorados.
Continuei descendo as escadas.
Eu não mais podia ouvir os gritos de Eric. Tinha certeza
que ele já estava morto, mas não era só por isso. Com certeza, eu já havia me
distanciado muito dos dois. E, como eu não acreditava que a mulher tinha
motivos para vir atrás de mim, uma certa sensação de tranqüilidade tomou conta
de meu corpo.
Cinco, dez, quinze minutos já deviam ter se passado. A
cada passo que eu dava para baixo, eu sentia a névoa se tornando mais densa. Eu
já não conseguia enxergar mais nada a minha frente. As luzes fracas das tochas
do meu lado, por outro lado, indicavam-me que o caminho não havia acabado.
Comecei a imaginar se aquilo era culpa daquela mulher.
Mal sabia dizer se ela era um fantasma ou um zumbi. Mas eu também sabia que
aquilo não era realmente importante.
O nevoeiro começou a se tornar mais frio com o tempo.
Aquilo, entretanto não me incomodava. Eu estava andando há minutos sem
descanso. Sinceramente, diminuir o calor não seria algo que eu reclamaria. Ao
menos, não naquele momento.
Entretanto, não demorou muito para que rajadas de ventos
gélidos viessem contra mim.
A força do vento me jogava para trás. Meu corpo começou a
tremer. Meus olhos começaram a ficar secos, forçando-me a piscar
constantemente.
Entretanto, o maior problema foram as tochas. O vento não
demorou a apagá-las.
Agora, a escuridão havia aumentado, bem como o frio e o
meu desespero.
Cruzei os braços na frente do meu peito, esperando que
aquilo diminuísse o frio. Então, sem pensar muito no assunto, resolvi começar a
correr.
Aquilo diminuiria o frio, com certeza. E o meu desespero
me incentivava a fazer aquilo.
Pela escuridão e o nevoeiro denso, eu corri, torcendo
para que eu não errasse a minha passada. Não sabia quando a escadaria
terminaria. Cair não me parecia viável naquele momento.
Porém, não demorou muito para eu pisar num degrau um
pouco frágil de mais.
A pedra se transformou em pó bem debaixo de meu pé
direito. O ar pareceu mais frio ainda naquele momento. Eu não conseguia pensar
em mais nada. Então, veio a primeira batida.
Não sei como, mas eu consegui levar os meus braços a
frente de meu rosto. Senti a minha pele se ralar contra o chão áspero de pedra.
Não fora a primeira vez. Porém, diferentemente de antes, aquilo se repetiria
rapidamente.
Agora, eram as minhas costas que se chocavam contra os
degraus. Eu senti uma dor aguda. Segurei o grito.
Na terceira batida, caí rolando sobre os meus braços até que
eu estivesse sentado.
Mesmo com aquela neblina, eu conseguia ver uma luz
através dela.
Mesmo sem saber o que me aguardava, eu me levantei,
sacudi a poeira das minhas roupas e sorri.
Enquanto saia do que me parecia ser uma caverna, vi uma
placa a alguns metros de mim.
Rapidamente, eu me aproximei dela, andando pelo chão de
terra. Mesmo gasta e enferrujada, eu pude ler o que estava escrito na placa.
“Cidade da Névoa, um quilômetro a frente”.
Eu vi o caminho asfaltado do lado da placa. Se eu
seguisse por lá, chegaria até a tal cidade. Eu não tinha ainda como saber o que
me aguardava.
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