terça-feira, 21 de julho de 2015

Nightmareland, Capítulo 11

O Cavaleiro


Eu deveria ter morrido naquele instante.
Não exatamente em um único segundo, entenda.
Aquele monstro provavelmente teria me matado o mais lentamente possível, torturando-me por quanto tempo ele desejasse, fazendo-me implorar por minha morte.
Mas eu não quero pensar muito nisso.
Só sei que ele me salvou. O que me deixou extremamente confuso. Afinal, aquele monstro queria me matar antes.
Mas eu não sabia daquilo no momento. A chegada dele não teve nenhum impacto inicial para mim. Afinal, não tinha como aquela situação piorar. Não para mim ao menos.
Cercado por aquelas aberrações, eu já havia aceitado o meu fim. O toque frio dos dedos do homem a minha frente havia ceifado toda a minha esperança.
Enquanto ele me levantava no ar e apertava meu pescoço, eu fechei os olhos.
Então, mo meio da confusão de grunhidos daquelas criaturas asquerosas, eu ouvi aquilo.
O som dos cascos veio em minha direção. As criaturas pareciam ter sido tomadas pelo medo, ficando completamente paralisadas.
Então, tudo aconteceu rápido demais.
Um surto de adrenalina me atingiu, juntamente com uma certa dose de esperança. Eu aproveitei aquele momento para me soltar das mãos do monstro. Força não foi necessária, afinal, ele mal se lembrava de que eu ainda estava lá.
Tudo o que eu tive tempo de fazer foi me ajoelhar. Aquela foi uma das minhas melhores decisões em Nightmareland.
Vindo do nada, o ceifador cavalgando em seu cavalo espectral.
Ele atacou com sua longa foice, passando menos de um palmo acima de minha cabeça e, ao mesmo tempo, acertando o monstro a minha frente.
Eu fiquei boquiaberto enquanto o tronco daquela criatura voava por cima de mim. Sangue escuro, quase cor de carvão, saiu dele, atingindo e tingindo o ombro esquerdo de minha camisa. Suas tripas também foram praticamente expulsas do resto do corpo, exalando seu aroma fétido.
Eu não tinha tempo a perder. Enquanto o ceifador fazia uma volta com seu cavalo, eu comecei a correr desesperadamente, sem saber para onde ia. Afinal, aquilo não importava no momento.
Eu podia ouvir nitidamente os gritos das criaturas atrás de mim. O som dos cascos do cavalo pisoteando o solo, bem como o seu relinchar, eram, entretanto, bem mais claros.
Minha respiração começou a se tornar ofegante após algum tempo. Eu não sabia por quanto tempo eu havia corrido. E eu não pretendia parar.
O ceifador havia realmente me salvo? Sim. Mas eu tinha certeza de que aquela não era a intenção dele. Afinal, eu não era o único alvo e, por sorte, eu não era o mais lento.
Montado em seu cavalo, era bem provável que o ceifador tivesse matado todas aquelas criaturas. E talvez ele viesse atrás de mim. Talvez ele cavalgasse em minha direção naquele exato instante. E era exatamente por isso que eu não pararia de correr.
É claro que não demorou muito para eu cair de exaustão. Meus pés ardiam. Respirar me trazia ainda mais dor. O chão rochoso sob mim não melhorava a situação.
A névoa parecia mais densa na região onde eu estava. Deveria estar frio, mas não tinha como eu sentir aquilo naquele instante, não depois de correr tanto.
Eu respirei fundo. Várias vezes. Tinha que recuperar todo o ar que eu havia perdido na corrida.
Deitado naquele chão, eu não pensei em conforto. Não sentia nem vontade de me levantar. Não sentia vontade de fazer nada.
Então, ouvi algo que fez meu coração disparar.
O som dos cascos voltou.
Eu comecei a tremer de medo. Porém, não havia mais nada que eu pudesse fazer.
Eu já havia aceitado a morte minutos atrás. Desistir da vida agora não seria difícil, ainda mais no estado que eu estava.
Calmamente, o cavalo se aproximou de mim. Os cascos tocavam gentilmente o solo.
Alguns instantes se passaram. E absolutamente nada aconteceu.
Eu comecei a ficar inquieto. Aquilo estava me torturando.
Deitado de costas para cima, eu nem podia olhar para o ceifador.
Eu não queria dizer que eu estava ansioso para morrer. Mas, infelizmente, esse era o sentimento. Afinal, eu queria que aquilo acabasse o mais rápido possível. Tamanho suspense era apenas cruel.
Eu não resisti.
Com o que me restava de força, eu me virei, ficando com as costas no chão.
E eu o vi claramente.
O homem velho, com cabelos e barba grisalhas, e o rosto cheio de rugas olhava para mim. Ele trajava uma roupa simples. Camiseta azul com mangas compridas, jeans surrados e sandálias marrons e gastas, além de um chapéu de palha na cabeça.
O senhor estava montado em seu cavalo castanho com crina negra. O animal parecia ser extremamente bem tratado, forte e confiante.
O velho carregava uma pá com ambas as mãos. O objeto parecia ainda mais antigo que o homem que a manejava.
Não sabia se você estava vivo ou morto. Disse o senhor com um sotaque forte, um pouco intimidador. Por isso que eu não havia começado a te enterrar.
Eu fiquei em silêncio. Eu olhava rapidamente do homem para a pá em suas mãos. Não sabia dizer se ele era um monstro ou uma pessoa comum. Estranhamente, aquilo não me incomodava tanto. Além disso, algo me dizia que eu podia confiar nele.
Após alguns instantes, eu consegui perguntar:
Você... Você é um coveiro?
Pode-se dizer que sim. O senhor sorriu. O melhor da Cidade da Névoa.
Eu iria falar que aquilo era algo meio estranho de se orgulhar, porém, havia algo de mais importante no que ele disse.
Cidade da Névoa... Eu balbuciei. Onde fica isso.
O senhor apenas apontou para frente. Pelo espesso nevoeiro cinzento, eu não pude ver nada.
Menos de dez minutos andando e você chega lá. O velho acrescentou.
Eu suspirei. Olhei mais uma vez para o senhor. Sua expressão calma naquele lugar era um pouco desconcertante.
Você pode me dizer o que me aguarda lá? Perguntei.
O velho sorriu e respondeu:
Veja por você mesmo. O cavalo começou a andar. Eu estou para lá agora. Caso queira um guia para o trajeto... O animal parou. Diga. Logo.
Fiquei em silêncio, apenas pensando. Nightmareland era um inferno, mas, por algum motivo, eu sentia que eu deveria ir para a Cidade da Névoa. Algo me aguardava. Respostas? Aliados? Uma saída daquele lugar? Eu não tinha como saber.
Porém, eu precisava me arriscar.
Certo. Eu disse. Vamos.
O senhor assentiu, sem muita emoção em seu rosto. Ele era um enigma, mas resolvi confiar nele.

Pelo nevoeiro, seguimos até o nosso destino.

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