Murderers
Assassinos
“Sete então, hein?”.
Havia agora sete seguidores das
Trevas em plena cidade de Leviathan antes que a noite chegasse. Em um instante,
nobres e clérigos começaram a correr para longe. Dezenas de guardas sacaram
suas armas. Astaroth e Gabriel estavam surpresos. Tristan estava aparentemente
calmo.
“Muito bem...”.
—
Vamos tentar entender o que está acontecendo aqui, certo? — Tristan disse em alto e
bom som para que todos que estavam presentes pudessem ouvir.
—
Vocês estão tentando atacar a nossa cidade por dentro! — Um guarda protestou. — Eles estão aproveitando este momento!
Estávamos com a guarda baixa por vocês estarem acompanhados de Gabriel! Isso é
o que está acontecendo!
Murmúrios começaram entre os
guardas. Em poucos instantes, eles formaram um círculo em volta dos seres das
Trevas.
—
Vocês não têm como fugir! —
Um guerreiro que carregava uma espada e um escudo gritou.
—
Por favor, acalmem-se. —
Tristan pediu.
—Não!
— Outro guarda
gritou. Ele carregava um arco em uma mão e a outra estava em sua aljava. — Vocês fiquem quietos!
Vocês serão julgados pela tentativa de ataque a nossa cidade!
—
Julgados...? —
Astaroth perguntou sussurrando para Tristan.
—
Eles acham que estamos atacando eles. —
Tristan explicou. — E
que seremos julgados por isso. Eles avaliarão todos os fatores envolvidos no
caso e nos punirão adequadamente...pelo menos, da maneira que eles acreditam
ser justa.
—
Certo... — Astaroth
parecia pensativo. —
Por que complicar tanto? Eles poderiam matar logo ou prender a pessoa se há
algum interesse em manter-la viva, nem que seja só pra torturar ela. Sabe? Do
jeito que a gente faz.
—
A abordagem deles é diferente. —
Tristan bufou. — A
maioria das pessoas aprova essa maneira de agir. Esse é só mais um dos motivos
pelos quais mais e mais pessoas se juntam as forças da Luz.
—
Sério? — Astaroth
parecia legitimamente surpreso. —
Não acredito. Quanta gente chata.
Tristan sorriu.
—
Vocês! — O guarda já
apontava a flecha para o Demônio e o guerreiro das Trevas. — Parem de conversar?
—
Caso contrário? —
Astaroth exibiu os dentes em um sorriso largo e desafiador. — O que você vai fazer?
O guarda não respondeu com palavras. Ele
apenas disparou a flecha na direção do rosto de Astaroth. A um centímetro para
chegar ao rosto do Demônio, o projétil foi parado. Tristan havia agarrado a
flecha. O guerreiro das Trevas encarou o arqueiro. Tristan apertou a flecha com
sua mão, partindo-a no meio.
—
Você sabia que eu faria isso, não? —
O guerreiro das Trevas perguntou para o Demônio.
—
Claro que sabia! —
Astaroth sorriu. —
Você não perderia uma chance dessas para se exibir, não é?
—
Bem...é. — Tristan
sorriu. — Mas não
conte tanto assim com o meu bom humor, certo?
—
Vou tentar lembrar na próxima vez.
O som de mais cordas de arcos
sendo esticadas simultaneamente fez com que o sorriso sumisse do rosto dos dois
amigos.
—
Gabriel? — Tristan
chamou.
—
Sim? — Ele respondeu
desinteressado.
—
Você poderia mandar os seus homens não nos atacarem violentamente sem que
averiguemos essa situação?
—Há
algo para averiguar?
—
Você realmente acha que nós planejamos esse ataque?
—
Vocês planejaram?
—
Não.
—
Ótimo. — O guerreiro
da Luz sorriu. —
Então prove.
—
Como?
—
Não sei. Até onde eu sei, esses ai são assassinos. — Ele apontou para as sete pessoas vestidas
com trajes pretos. —
E, aparentemente, seguidores das Trevas. Logo, são seus aliados. Sendo que
estamos sob uma trégua, bem...um ataque desses seria no mínimo inapropriado.
Mas, devo admitir, nem tão inesperado assim. Até que foi uma tentativa...ruim
de nos atacar. Não chega a ser péssima, mas está longe de qualquer forma de
sucesso. Vocês estão muito longe de Leviathan onde estão no momento. Vocês
conseguirão, no máximo, matar algumas dezenas de nobres e alguns guardas. Acho
que não mais que isso.
Astaroth grunhiu.
—
Algum problema, Demônio? —
Gabriel perguntou.
—
Dois, na verdade. —
Astaroth disse. — Primeiro,
eu não achava que você fosse burro a ponto de acreditar que nós fossemos burros
a ponto de tentar atacar vocês de maneira tão...burra. E, segundo...algumas
dezenas de nobres e alguns guardas? Sério!? Você realmente acha que nós
conseguiríamos causar tão pouco estrago. —
Ele riu. — Se eu e
Tristan, sem a ajuda daqueles sete, atacássemos vocês...bem, vocês não
gostariam nem um pouco do resultado. Principalmente você, brinquedinho do Lorde
da Luz. Você estaria no chão, boiando em uma poça do seu próprio sangue, com
seu rosto...
—
Astaroth! — Tristan
interrompeu. — Pare.
Você só está piorando a nossa situação.
O Demônio pensou por um
segundo.
—
É...acho que você está certo. —
Astaroth sorriu maniacamente. —
Mas eu também estou certo quanto a...
—
Cale-se.
—
Certo...
—
Então...tem como provar? —
Gabriel perguntou impacientemente. Em algum momento, ele havia invocado sua
espada e agora balançava a arma de um lado para o outro.
Tristan respirou fundo e cerrou
os punhos.
—
Segure seus homens por alguns instantes. —
Tristan disse firmemente. —
Logo, você terá a sua resposta.
O guerreiro da Luz sorriu.
—
Ótimo. —
Gabriel fez com que sua espada desaparecesse. —
Boa sorte, Escolhido de Nidhogg.
O escolhido de Leviathan
levantou sua mão direita. Todos os guardas abaixaram suas armas e guardaram
suas flechas.
“Ótima maneira de se exibir”.
Tristan andou até os sete
assassinos. Os capuzes pretos cobriam os rostos deles.
—
Senhor Tristan! — Um
dos assassinos exclamou. —
Essa é uma ótima oportunidade para semear o medo nos corações dos moradores da
capital da Luz, não acha?
—
Eu nem sei quem são vocês. —
Tristan respondeu friamente.
—
Mas é claro que não! —
Uma assassina disse animada. —
Quem somos nós, não é? Somos apenas meros assassinos. Meros seguidores das
Trevas. Nós somos insignificantes comparados aos Demônios e, principalmente, a
você.
—
É provável que nossas mortes nem sejam notadas. —
Um assassino de voz grave acrescentou. —
Somos apenas pessoas que perderam tudo na vida...ou que nunca tiveram
nada.
—
Sim, é verdade. — Um
quarto assassino afirmou. —
Muitos de nós nem temos mais parentes vivos e, os que têm, não são muito
chegados a eles. Tios e avós que não cuidaram de nós quando precisamos. Não há
amor deles por nós. Não há amor nosso por eles. —
Ele respirou fundo. —
Como poderíamos sentir amor por pessoas que nos abandonaram?
—
Não nos sobrou muita alternativa. —
Outra assassina acrescentou. —
Sem lugar para onde ir, sem ninguém que confiávamos a clamar por ajuda... — Ela olhou para baixo por
um segundo. — Nós
fomos forçados a nos tornar ladrões.
—
Nós estamos nessa vida há muito tempo. —
Uma terceira assassina disse. —
E esse mundo...é cruel. Mesmo sendo ladrões...nós não conseguíamos sobreviver.
Não queríamos nos tornar assassinos. Não queríamos chegar a esse ponto. Eu sei
que vocês, moradores da cidade de Leviathan, são trabalhadores honestos. Nós
sabemos que vocês nos condenam por sermos assassinos, mas...não havia outra
alternativa.
—
Certo dia, um homem veio até nós. —
O último assassino, aquele que matou a nobre há pouco, contou. Ele parecia ser
o líder do bando. —Nós
morávamos em uma cidade...simplesmente detestável. Labasura. Uma cidade nojenta
no oeste de Lionrealm. Era, originalmente, uma pequena vila de pescadores onde
muitos ladrões se refugiavam. Porém, com o passar dos anos, a população dos que
pescavam peixes se tornou muito menor do que a que pescava moedas em bolsos. E,
como se pode imaginar, os ladrões que conseguiam muito dinheiro não pensavam
muito em sua comunidade. Era o único lugar que poderíamos viver. Mesmo não
sendo muito seguro...não tínhamos como reclamar. —
Ele respirou fundo. Uma das assassinas andou até o seu lado e sussurrou algo.
Ele sorriu. —
Desculpem-me. Acabei desviando do assunto principal. O homem que veio nos visitar.
— Ele limpou a
garganta. — Um dia,
um homem trajando uma armadura negra e lustrosa apareceu na vila. Ele nem
parecia real. Ele...
—
Ele era lindo. — Uma
das assassinas acrescentou.
—
Bem...é. Devo admitir. Ele era bem bonito. —
O assassino sorriu. Em seguida, ele olhou para o corpo da mulher que ele havia
matado. — Ele...nos
acolheu. Aliás, as Trevas nos acolheram. Ele nos contou sobre Dragonrealm,
sobre Nidhogg. Ele nos deu algo em que pudéssemos acreditar. As Trevas...bem,
elas podem ser mal vistas nessa cidade, mas com certeza são mais bem vistas que
os deuses pagãos em que os outros moradores de Labasura acreditavam.
—
Não viemos clamar por piedade. —
O primeiro assassino tornou a falar. —
Nós apenas queríamos que vocês vissem o nosso lado. Queríamos que vocês
soubessem dos nossos motivos. Nós vamos seguir o nosso plano. Nós vamos atacar
essa cidade. Nós morreremos acreditando em nosso ideal! — Ele andou até Tristan e pousou sua mão
esquerda no ombro direito do guerreiro das Trevas. — E nós faremos isso juntos, não é?
—
Afinal, não acho que você queira contrariar Nidhogg. — Uma das assassinas disse sorrindo. — Eu sei que não houve
nenhum aviso prévio, mas o Lorde das Trevas nos mandou aqui. Nós vamos lutar ao
seu lado. Nós vamos causar o máximo de estrago possível a esta cidade nojenta.
—
Nidhogg queria que aproveitássemos essa oportunidade. — O aparente líder do grupo sorriu. — Você não vê? Nós não nos
importamos de morrer aqui para que nosso ideal seja cumprido! Você e esse
Demônio podem fugir daqui quando acharem apropriado, mas nós ficaremos. Nosso
sangue manchará o solo deste local juntamente com o deles!
—
Morrer por um ideal... —
O guerreiro das Trevas murmurou.
Rapidamente, Tristan invocou
sua espada e a cravou no peito do assassino a sua frente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário