Nidhogg, The Lord
of Darkness
Nidhogg,
o Lorde das Trevas
Viajando em forma de trevas, Tristan conseguia se
deslocar rapidamente, podendo deixar as Terras do Noroeste de Wolfrealm e
chegar à capital de Dragonrealm, o Império das Trevas, em menos de uma hora.
Enquanto viajava, o guerreiro sombrio observava a área
dos reinos. Ele sobrevoava as florestas alaranjadas pela estação das ilhas de
Wolfrealm, o mar cor de safira que as separava do resto do continente, os
planaltos rochosos e planícies verdejantes de Lionrealm a distância e,
finalmente, as árvores gigantescas com troncos robustos que se espalhavam pelos
tapetes cor de esmeralda de Dragonrealm.
O lugar quase parecia pacífico, até chegar a grande
cidade de Nidhogg, batizada com o nome do Lorde das Trevas. O lugar era
monumental, protegido por uma grande barreira expressa e circular de mais de
dez metros de altura. Toda a cidade era marcada por uma coloração cinzenta como
um nevoeiro com um céu sempre nublado, fazendo com que toda a área estivesse
imersa em uma noite sem fim. No centro da grande cidade circular, uma
construção parecia desafiar os céus: um palácio gigantesco construído de ônix e
prata, envolto por mansões menores construídas no mesmo estilo, propriedade dos
grandes nobres da cidade, líderes e donos de facções de ladrões, assassinos,
mercenários e mercadores de itens ilegais.
Ao entrar pela forma de trevas no último andar, dois
Demônios da guarda real estavam diante da porta da sala do trono. Tinham mais de dois metros de altura cada e
trajavam armaduras cor de sangue, além de portarem lanças cor de ébano.
—
Vejo que retornou com sucesso de sua missão...de novo. — Disse o Demônio da direita.
—
Obviamente. Caso contrário, não teria retornado. —
Respondeu Tristan no tom frio habitual.
—
Não esperava menos do preferido do chefe. —
Disse o Demônio da esquerda, num tom zombeteiro. —
Você só tem que aprender a socializar um pouco mais. Não é porque somos
assassinos sanguinários que não podemos rir de vez em quando. — E começou a rir juntamente
com o outro Demônio.
“Eu sou o Escolhido do Lorde das Trevas, mas tenho que
ficar aturando vermes como esses...”.
—
Se já se divertiram, abram a porta. Eu tenho que falar com o Lorde. — Disse Tristan,
rispidamente.
Os Demônios abriram a porta e Tristan entrou na sala do
trono. O lugar era um grande corredor com paredes negras com estandartes das
Trevas: a cabeça de um dragão negro visto de frente em um fundo roxo, fazendo
com que os olhos da fera tivessem a mesma cor do fundo. No chão, um tapete rubro
se estendia pelo centro da sala, subindo as escadarias e chagando até os pés do
trono feito de ônix com detalhes imitando escamas e garras de dragão. O ar era
preenchido com o aroma de hidromel, bebida a fermentada feita a base de mel, a
favorita do deus.
Lá, sentado pacientemente, esperando pela volta de
Tristan, estava Nidhogg, o Lorde das Trevas.
—
Missão concluída com sucesso. —
Disse Tristan, aproximando-se a cada passo do trono e do deus. Apesar de
estar falando com o Lorde das Trevas, usava o mesmo tom com que falava com
todos: frio.
—
Você nunca me decepciona, não é? —
Disse Nidhogg, com um sorriso caloroso, enquanto terminava uma taça de hidromel
e a apoiava no braço do trono. Por ser um deus, não envelhecia. Apesar de ter
quase cinco mil anos de idade, tinha a aparência de um mortal de pouco menos de
quarenta anos. Seus cabelos e olhos eram como os de Tristan, mas seu rosto
tinha uma expressão mais alegre, quase jovial, fazendo parece com que os dois
tivessem a mesma idade. O deus era um pouco mais alto, cerca de três
centímetros a mais que Tristan. Quanto à vestimenta, ele trajava uma túnica
negra com botas e manoplas feitas de ferro quase tão enegrecidas quanto às
paredes de seu palácio. —
Não teve um único dia em que em tenho me arrependido em ceder parte dos meus
poderes para te transformar em meu Escolhido. Você até me lembra eu mesmo, uns
três mil anos atrás, massacrando as forças da Luz com as próprias mãos. — O Lorde gargalhou,
enquanto a expressão de Tristan se mantinha a mesma. — Bem...eu era um pouco mais bem humorado,
para dizer a verdade.
—
Mais algum pedido?
—
Não...acho que não. —
Disse o deus, coçando a nuca. —
Lembrei! Algo muito importante está para se concretizar!
—
E o que seria?
—
O nascimento do meu filho! —
O sorriso no rosto do deus era ainda maior.
—
Seu...filho? —
Perguntou Tristan, com uma expressão de confusão no rosto.
—
Sim! Sim! — Nidhogg
pareceu notar a expressão no rosto de seu Escolhido. —Creio que eu não cheguei a explicar isso a
você. — O deus se
levantou, caminhou até Tristan e apoiou o braço direito sobre o ombro esquerdo
do guerreiro. — Do
mesmo modo que eu posso dar parte do meu poder para um mortal para ele se
tornar um mestre das Trevas, eu posso deixar parte do meu poder em um
recipiente para ele evoluir, criando um novo ser. Ele virá a se tornar mais
forte que você com o tempo. Infelizmente, essa evolução é demorada e eu só
posso criar um herdeiro de uma vez. Logo, eu só posso ter um filho a cada mil
anos, aproximadamente. Isso também vale para nosso querido Leviathan, o Lorde
da Luz. Ele tem um escolhido e, em breve, também terá um herdeiro.
—
E aonde eu entro nessa trama? —
Disse Tristan, enquanto tirava o braço de Nidhogg de cima de seu ombro.
—
Bobinho. Você é quem vai treiná-lo!
— Como?
— Disse Tristan,
irritado. — Mais uma
obrigação? Por mais quanto tempo você irá negar o meu pedido?
—
Tudo ao seu tempo. Tenha calma.
—
Calma? Para um ser que não sente o tempo passar, pode ser fácil. Para uma
criatura incapaz de amar, é uma tarefa trivial. Mas e para mim? Eu tive o amor
da minha vida tirado de mim. Você sabe bem disso. Eu só me aliei a você para
que você a pudesse trazer de volta.
—
E eu pretendo cumprir com a minha palavra. Tente entender a situação, sim? Você
envelhece mais vagarosamente enquanto é meu Escolhido. Quando eu trouxer sua
Isolde de volta, ela amará o mesmo rosto jovem e heroico pelo qual se
apaixonou. — A
expressão de Nidhogg se tornou mais séria. —
Ajude-me nessa guerra. Treine meu filho. Guie-nos a vitória. — O deus sorriu. — Pense assim: quando meu
filho chegar ao seu nível, não precisarei mais de você. Ele ocupará seu cargo.
Aí, enquanto as Trevas dominam o mundo, você pode aproveitar o resto de sua
vida ao lado de sua amada sem se preocupar com guerras. O que você me diz?
“Maldito”.
—
Eu...aceito. — Disse
Tristan, sabendo que não havia escolha. Ele não conseguia parar de pensar em
Isolde.
—
Ótimo! — Disse o
deus, ainda mais sorridente. —
Bem...você está dispensado, por enquanto. Vá descansar, beber, comer alguma
coisa. Você fez por merecer, como sempre.
Tristan saiu da sala e se dirigiu à sacada de seu quarto
no palácio.
“Isolde...quanto tempo faz...? Quanto tempo faz desde que
você se foi?”
Tristan olhava para o céu sombrio da capital do Império.
“Há quantos anos eu me transformei nisso? Se não fosse
para conseguir ter você de volta, eu já teria desistido de ser essa criatura”.
Tristan agora sorria, apesar da expressão em seu rosto
não ser de muita felicidade.
“Engraçado. Eu sofro por você, Isolde. E por você, eu
sofro. Isolde, minha querida Isolde...”.
Tristan foi dormir, ainda pensando na amada. As
lembranças daqueles dias fatídicos ainda o atormentavam.
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