O Celular
O que eu estou escrevendo agora é um simples relato que
afetou drasticamente a vida de dois jovens.
Sabe quando tudo que poderia dar errado acontece de uma
vez? Não me diga que sim. Eu tenho certeza que você não teve um dia como o de
Amber. Ah... Pobre garota. Linda, sem dúvidas. Saiu de sua pequena casa para no
meio do nada junto com Edward, seu namorado. Juntos, eles se mudaram para um
apartamento modesto na cidade grande. Ele trabalhava. Qualquer bico servia. Ele
era muito esforçado. Ela estudava. Era uma faculdade respeitada. Aparentemente,
ele era inteligente ou, pelo menos, muito determinada. Eles se amavam muito.
Mas isso não impedia que brigas acontecessem.
Um dia, algo muito ruim aconteceu aos dois. Eles haviam
discutido. Gritado, talvez. Não sei qual era o assunto. Talvez seja melhor eu
não saber, certo? Devemos respeitar a intimidade alheia, não?
Enfim, tal acontecimento não poderia ter ocorrido em uma
ocasião mais inapropriada. Por quê? Ora, Amber era uma estudante de uma
faculdade renomada. Estudar muito era normal durante um dia comum. Entretanto,
antes de uma avaliação importante, ela deveria ter que estudar, ao menos, duas
vezes mais que o habitual. Agora, tente fazer isso com sua cabeça envolta por
uma tempestade de emoções. Raiva por ter brigado. Tristeza por ter sido com
alguém que você se importa. Uma mistura de amor e ódio pela pessoa que você
brigou. Frustração por não conseguir se focar nos estudos. É...eu não queria
estar no lugar dela.
Acredito que ela não seja a única a ter passado por uma
situação como essa. Toda essa confusão em um momento assim... Até eu já passei
por isso. Não. Eu não vou entrar em detalhes. Eu nem preciso. É bem provável
que você que está lendo também já tenha passado por algo parecido.
Enfim, você, leitor, já deve estar pensando onde o título
desse conto aparece nesse relato, não? Ora, se é o título, ele deve ter certa
relevância, certo? Pois bem, é agora que o celular aparece...ou não? Bem,
continue lendo para descobrir.
Amber estava sozinha em seu apartamento. Os dois não
poderiam ficar sob o mesmo teto de uma briga daquelas, não? É claro que não.
Edward havia saído do lugar. Talvez ele tivesse ido beber alguma coisa, não
sei. Ele precisava esfriar a cabeça depois da briga. Mas ele voltaria. Ainda naquela
noite, ele voltaria para o apartamento. Porém, agora, isso não era importante.
Naquele momento, Amber sentiu algo vibrar dentro do bolso
esquerdo de sua calça jeans. “Meu celular...”. É o que ela deve ter pensado.
“Talvez seja de Edward...”. Ele deve ter concluído e, assim, resolveu ignorar o
celular. É claro que poderia ser outra pessoa, mas o nome de seu namorado era o
primeiro que apareceria em sua cabeça. Não muito lógico, é óbvio, mas foi esse
o raciocínio que ela deve ter usado.
Eu sinceramente não a posso culpar por agir assim.
Emocionalmente, ele tinha motivos para ignorar a mensagem. Racionalmente,
também. Não se esqueça que ela tinha que estudar para uma avaliação. Como
estudante de uma faculdade como aquela, infelizmente, Amber não podia se dar ao
luxo de ter notas baixas. Aquilo podia mudar o futuro dela. Eu mesmo estava
tentando ler um dos livros que ela estudava e...é, eu não entendi nada.
Então, com o motivo, ou talvez a desculpa, de estudar,
Amber ignorou a ligação.
Porém, três minutos depois, o celular vibrou novamente.
Aquilo só deve ter dado mais certeza a Amber que era o
seu namorado que a chamava. Ela deve ter se sentido contente por estar
ignorando Edward. Se fazendo de difícil, hein?
Enfim, aquilo deve ter se tornado irritante com o tempo.
Por quê? Porque, a aproximadamente cada três minutos, o celular vibrava.
Aquilo atrapalhava os seus estudos, sem dúvida. A cada
vibração do celular, as palavras escritas no livro que ela lia se embaralhavam.
A cada vibração, ela se lembrava de Edward. A cada vibração, aquela explosão de
sentimentos a atingia.
Ela devia estar começando a suar frio naquele momento.
Amber devia estar começando a duvidar se ela conseguiria ir bem durante a prova
do dia seguinte. Mas ela não pretendia tirar o celular do bolso. A cada
vibração dele, ela quase podia ver Edward se arrastando de volta para ela,
beijando os seus pés, admitindo ser um idiota e dizendo a ela algo como “eu
estava errado” ou “você estava certa” de maneira patética.
Meia hora depois, o celular continuava a vibrar entre
intervalos irregulares. Naquele instante, aquilo apenas servia para irritá-la.
Sua perna direita já estava formigando. Foi aí que ela resolveu tirar o objeto
do bolso e o arremessar para sua cama. Porém, ao tocar no celular, um calafrio
percorreu sua espinha.
O objeto estava frio demais, como se estivesse congelado.
Após hesitar um pouco, ela tirou o celular do bolso e percebeu...que aquele não
era o seu celular.
O aparelho era completamente preto. Na tela touchscreen,
as palavras da mensagem pareciam ter sido entalhadas. As palavras, em cor
vermelho vivo, pareciam...úmidas.
Talvez ela tivesse achado que aquilo era sangue. Seria
engraçado ver a expressão dela naquele instante. Infelizmente, eu cheguei
alguns momentos depois, então, não pude ver.
Enfim, ela leu a mensagem. Tenho certeza que ela se
apavorou.
“Você esqueceu o seu celular. Eu estou indo aí para te
devolver. Não se preocupe. Eu sei onde é. E também tenho as chaves.
Agora...você ouvirá uma batida na porta de seu quarto...”.
E assim aconteceu. Uma batida soou na porta do quarto
dela. Ela devia estar apavorada, então, ela não respondeu. Que rude. Ela me
forçou a arrombar a porta com as minhas próprias mãos.
Foi aí que eu vi Amber. Foi aí que eu vi aquele olhar
tomado pelo medo. Não sei se foi pela minha aparência ou se foi pela cabeça de
Edward que eu carregava em minha mão esquerda. Realmente, eu não sei dizer. Só
sei que aquele olhar continuou no rosto dela mesmo depois que ela morreu.
Após matar Amber, peguei o meu celular de volta. Assim,
deixei o apartamento carregando uma cabeça em cada mão.
O quê? Não, direi como eu a matei. Eu também não direi
como eu me pareço. Por que eu estragaria a surpresa? Eu posso lhe visitar esta
noite. Quem sabe? Se você ainda não checou seu celular, você deveria...
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