terça-feira, 31 de março de 2015

Conto de Terror 6

O Celular


O que eu estou escrevendo agora é um simples relato que afetou drasticamente a vida de dois jovens.
Sabe quando tudo que poderia dar errado acontece de uma vez? Não me diga que sim. Eu tenho certeza que você não teve um dia como o de Amber. Ah... Pobre garota. Linda, sem dúvidas. Saiu de sua pequena casa para no meio do nada junto com Edward, seu namorado. Juntos, eles se mudaram para um apartamento modesto na cidade grande. Ele trabalhava. Qualquer bico servia. Ele era muito esforçado. Ela estudava. Era uma faculdade respeitada. Aparentemente, ele era inteligente ou, pelo menos, muito determinada. Eles se amavam muito. Mas isso não impedia que brigas acontecessem.
Um dia, algo muito ruim aconteceu aos dois. Eles haviam discutido. Gritado, talvez. Não sei qual era o assunto. Talvez seja melhor eu não saber, certo? Devemos respeitar a intimidade alheia, não?
Enfim, tal acontecimento não poderia ter ocorrido em uma ocasião mais inapropriada. Por quê? Ora, Amber era uma estudante de uma faculdade renomada. Estudar muito era normal durante um dia comum. Entretanto, antes de uma avaliação importante, ela deveria ter que estudar, ao menos, duas vezes mais que o habitual. Agora, tente fazer isso com sua cabeça envolta por uma tempestade de emoções. Raiva por ter brigado. Tristeza por ter sido com alguém que você se importa. Uma mistura de amor e ódio pela pessoa que você brigou. Frustração por não conseguir se focar nos estudos. É...eu não queria estar no lugar dela.
Acredito que ela não seja a única a ter passado por uma situação como essa. Toda essa confusão em um momento assim... Até eu já passei por isso. Não. Eu não vou entrar em detalhes. Eu nem preciso. É bem provável que você que está lendo também já tenha passado por algo parecido.
Enfim, você, leitor, já deve estar pensando onde o título desse conto aparece nesse relato, não? Ora, se é o título, ele deve ter certa relevância, certo? Pois bem, é agora que o celular aparece...ou não? Bem, continue lendo para descobrir.
Amber estava sozinha em seu apartamento. Os dois não poderiam ficar sob o mesmo teto de uma briga daquelas, não? É claro que não. Edward havia saído do lugar. Talvez ele tivesse ido beber alguma coisa, não sei. Ele precisava esfriar a cabeça depois da briga. Mas ele voltaria. Ainda naquela noite, ele voltaria para o apartamento. Porém, agora, isso não era importante.
Naquele momento, Amber sentiu algo vibrar dentro do bolso esquerdo de sua calça jeans. “Meu celular...”. É o que ela deve ter pensado. “Talvez seja de Edward...”. Ele deve ter concluído e, assim, resolveu ignorar o celular. É claro que poderia ser outra pessoa, mas o nome de seu namorado era o primeiro que apareceria em sua cabeça. Não muito lógico, é óbvio, mas foi esse o raciocínio que ela deve ter usado.
Eu sinceramente não a posso culpar por agir assim. Emocionalmente, ele tinha motivos para ignorar a mensagem. Racionalmente, também. Não se esqueça que ela tinha que estudar para uma avaliação. Como estudante de uma faculdade como aquela, infelizmente, Amber não podia se dar ao luxo de ter notas baixas. Aquilo podia mudar o futuro dela. Eu mesmo estava tentando ler um dos livros que ela estudava e...é, eu não entendi nada.
Então, com o motivo, ou talvez a desculpa, de estudar, Amber ignorou a ligação.
Porém, três minutos depois, o celular vibrou novamente.
Aquilo só deve ter dado mais certeza a Amber que era o seu namorado que a chamava. Ela deve ter se sentido contente por estar ignorando Edward. Se fazendo de difícil, hein?
Enfim, aquilo deve ter se tornado irritante com o tempo. Por quê? Porque, a aproximadamente cada três minutos, o celular vibrava.
Aquilo atrapalhava os seus estudos, sem dúvida. A cada vibração do celular, as palavras escritas no livro que ela lia se embaralhavam. A cada vibração, ela se lembrava de Edward. A cada vibração, aquela explosão de sentimentos a atingia.
Ela devia estar começando a suar frio naquele momento. Amber devia estar começando a duvidar se ela conseguiria ir bem durante a prova do dia seguinte. Mas ela não pretendia tirar o celular do bolso. A cada vibração dele, ela quase podia ver Edward se arrastando de volta para ela, beijando os seus pés, admitindo ser um idiota e dizendo a ela algo como “eu estava errado” ou “você estava certa” de maneira patética.
Meia hora depois, o celular continuava a vibrar entre intervalos irregulares. Naquele instante, aquilo apenas servia para irritá-la. Sua perna direita já estava formigando. Foi aí que ela resolveu tirar o objeto do bolso e o arremessar para sua cama. Porém, ao tocar no celular, um calafrio percorreu sua espinha.
O objeto estava frio demais, como se estivesse congelado. Após hesitar um pouco, ela tirou o celular do bolso e percebeu...que aquele não era o seu celular.
O aparelho era completamente preto. Na tela touchscreen, as palavras da mensagem pareciam ter sido entalhadas. As palavras, em cor vermelho vivo, pareciam...úmidas.
Talvez ela tivesse achado que aquilo era sangue. Seria engraçado ver a expressão dela naquele instante. Infelizmente, eu cheguei alguns momentos depois, então, não pude ver.
Enfim, ela leu a mensagem. Tenho certeza que ela se apavorou.
“Você esqueceu o seu celular. Eu estou indo aí para te devolver. Não se preocupe. Eu sei onde é. E também tenho as chaves. Agora...você ouvirá uma batida na porta de seu quarto...”.
E assim aconteceu. Uma batida soou na porta do quarto dela. Ela devia estar apavorada, então, ela não respondeu. Que rude. Ela me forçou a arrombar a porta com as minhas próprias mãos.
Foi aí que eu vi Amber. Foi aí que eu vi aquele olhar tomado pelo medo. Não sei se foi pela minha aparência ou se foi pela cabeça de Edward que eu carregava em minha mão esquerda. Realmente, eu não sei dizer. Só sei que aquele olhar continuou no rosto dela mesmo depois que ela morreu.
Após matar Amber, peguei o meu celular de volta. Assim, deixei o apartamento carregando uma cabeça em cada mão.

O quê? Não, direi como eu a matei. Eu também não direi como eu me pareço. Por que eu estragaria a surpresa? Eu posso lhe visitar esta noite. Quem sabe? Se você ainda não checou seu celular, você deveria...

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