The Deal
O
Acordo
—
Quem...quem é você? —
Perguntou Tristan ainda meio confuso olhando para o homem a sua frente.
— Eu
me chamo Nidhogg. —
Respondeu ele, sorrindo. —
Também conhecido como o Lorde das Trevas. Mas acho que essa parte é meio óbvia
pelo meu visual. —
Nidhogg olhou para a cena dos bárbaros e de Isolde, ainda paralisados. — E talvez você deva ter
percebido que eu salvei aquela mulher. E que eu também acabei de te salvar,
caso você não tenha entendido o que eu falei agora pouco.
“Como...espere...como...?”.
—
Você parece bastante confuso, meu jovem Tristan. —
O deus continuou. —
Certamente você deve ter muitas perguntas. Tantas perguntas que eu diria que
você nem consegue formulá-las. — Ele sorriu para Tristan. — Não é?
—
Bem...sim. — Tristan
conseguiu, enfim, dizer.
—
Não há problema. Eu posso explicar tudo. Me de alguns minutos. — Nidhogg se
sentou a frente de Tristan. —Bem...por onde eu começo? — O deus coçou a nuca. —
Já sei! —O Lorde das Trevas sorriu. — Bem...todos sabem da minha rixa com o
Lorde da Luz, Leviathan. Pois bem, nós, assim como qualquer outro deus, podemos
escolher guerreiros mortais para receberem parte dos nossos poderes, elevando
esse mortal a um nível que pode ultrapassar Anjos e Demônios facilmente. Logo,
nós procuramos por um guerreiro que se destaque entre vários mortais. Ao
reconhecermos a força, a bravura e a inteligência desse mortal, nós, deuses,
podemos o transformar em nosso Escolhido. E adivinha só quem eu escolhi. — O deus apontava para
Tristan enquanto sorria ainda mais.
—
Eu?
—
Exatamente! — O deus
ria de felicidade. —Eu
andei acompanhando você sem que ninguém pudesse me ver. Observei sua ascensão
ao posto de Capitão. Emocionei-me com sua história de amor. Torci pelo seu
plano. Obviamente, também não previ um ataque dos guerreiros das Terras do
Norte. Muito menos seu rival, Frederick, tentando matar você e Isolde, desfia a
lógica de se salvar apenas para tentar meu casal favorito, mas, tem louco pra
tudo, certo? —
Nidhogg riu. A expressão de Tristan mostrava que ele ainda estava um pouco
confuso. — De
qualquer maneira, quando vi que você correu por um castelo em ruínas para
encontrar seu amor, bem...eu realmente me emocionei. Estava realmente torcendo
por vocês. Nunca tinha torcido tanto por mortais. — O sorriso do deus desapareceu. — Mas ai chegamos a esse
ponto. Um único homem enfrentando um batalhão inimigo. Você quase foi morto. E
Isolde...quem sabe o que teria acontecido com a jovem? A morte seria algo bom e
piedoso para ela naquela situação, eu presumo. —
O Lorde das Trevas viu o medo no olhar de Tristan ao ter insinuado o trágico
destino de sua amada. —
Mas nada tema, jovem Tristan! Seu bom amigo Nidhogg estava aqui para
impedir-los! Agora, olhe para eles. —
Ele apontou novamente para a cena. —
Desse jeito, seria muito fácil matar-los, não acha?
Tristan levantou e pegou sua espada. Ele começou a
marchar na direção dos inimigos.
—
Espere! — Gritou o
deus. — Eu só posso
segura-los por mais alguns instantes. E ainda há muitos mais desses bárbaros
rondando a cidade. E você não tem mais seu cavalo. E você tem que proteger
Isolde. Entendeu o problema?
—
O que você quer dizer? —
Tristan perguntou irritado. —
Você me compartilha seus poderes apenas para eu e Isolde continuarmos fadados à
morte!?
—
Compartilhei meus poderes? —
Nidhogg riu. — Não,
seu tolo. Eu ainda não compartilhei meus poderes. Aquilo foi apenas uma cura rápida.
Caso eu compartilhe meus poderes com você, bem...digamos que você poderá fazer
coisas que você nunca havia sonhado serem possíveis.
O rosto de Tristan estava marcado pela desconfiança.
—
Algo tão bom assim...de graça? —
Tristan encarava o deus. —
Qual é a pegadinha?
—
Bem...você teria que me dar sua alma. —
Nidhogg disse, simplesmente. —
Só isso.
—
Dar a minha alma!? Só isso!?
—
É.
—
Você é louco?
—
Pense bem Tristan. Qual a função de sua alma? Sua inteligência está ligada ao
seu cérebro. Seus sentimentos, ao seu coração. Sua força, aos seus músculos. E
sua alma? Ela é tão útil quanto um arco sem uma flecha, ou uma flecha sem um
arco.
—
Se é assim...por que você a deseja?
Nidhogg gargalhou. A expressão de Tristan era séria.
—
Você é bem esperto, garoto. Ótimo, não há motivos para me fazerem te esconder
de você a verdade. Nós, deuses, não obtemos energia como vocês, mortais.
Comemos e bebemos por gosto. Dormimos muito raramente, pois não há a
necessidade de fazermos isso. Logo, precisamos obter energia de alguma forma.
Sabe como? — Ele
olhou para Tristan. O jovem balançou a cabeça em negativa. — Nós pegamos a energia das
almas de vocês, mortais.
“Como...?”.
—
Você parece surpreso. —
O Lorde das Trevas disse, analisando a expressão no rosto de Tristan. — Qual o problema? Vocês
praticamente vivem por nós. Leviathan e eu construímos esse grandioso Império.
Claro, estamos em uma espécie de guerra civil por haverem dois líderes com
ideais diferentes, mas mesmo assim é um Império. Olhe para essas criaturas. — Ele apontou mais uma vez
para os bárbaros. —
Eles são o inimigo em comum para a Luz e as Trevas. Eles são os verdadeiros
vilões. Olhe para a destruição causada por eles! É assim aqui em Griffinrealm,
e é assim em Dragonrealm também! Meu nem tão amigo Leviathan e eu, Nidhogg,
tentamos unir as terras dessa região. Criamos quatro reinos que compõe quase
todo esse continente! Criamos uma única língua para podermos nos comunicar,
evitando o caos de antes, quando havia centenas de dialetos sendo falados no
nosso Império. Tentamos unir as pessoas. É claro que existe uma rivalidade
entre nós, os Lordes da Luz e das Trevas, mas trabalhamos pelo bem das pessoas.
As Terras do Norte se recusaram a se unir a nós. Olhe para eles! São bárbaros.
Não constroem nada, apenas destroem. Absorvemos a energia da alma de nossos
seguidores caídos para nos fortalecer para que continuemos a expandir nosso
sonho para novas fronteiras. Você não consegue ver?
— Posso.
É claro. — Tristan
respondeu, pensativo, ainda com dúvidas sobre a intenção do deus. — Mas, já que eu ainda
estou vivo, porque pretende tirar minha alma? Como eu vou sobreviver sem minha
alma?
—
Eu já te disse, garoto. Você não precisa de sua alma para sobreviver. Mas eu
preciso. Eu não sei como vocês, eu ou praticamente qualquer outra coisa desse
planeta surgiu, muito menos seus propósitos. Deve haver um deus acima de mim
que saiba disso. Mas em relação às almas, acredito que já era previsto que nós,
os deuses, tentaríamos guiar vocês, mortais, segundo nossos ideais. Por isso vocês
foram criados com essa fonte de energia para nós. Eu uso a energia da alma de
meus seguidores caídos para me fortalecer, bem como as almas das pessoas às
quais eu ofereço meus acordos. Não parece justo? Para todo mundo?
—
Bem...parece. —Tristan
jogou sua espada e seu escudo no chão. —
Ótimo, você me convenceu. Vamos firmar o trato.
—
Excelente! — O Lorde
das Trevas sorriu e estendeu a mão direita para Tristan. Todo o braço do deus
estava envolto por uma nuvem de trevas agitadas. —
Aperte minha mão. Só isso.
“Tristan...por que você está fazendo isso?”
O jovem olhou novamente para a cena. Olhou novamente para
Isolde, prestes a ser morta. Ou pior.
“Certo...é por isso. É por ela”.
Tristan apertou a mão do deus. As trevas começaram a
entrar em seu corpo. Tristan tentava gritar, mas não tinha mais voz. Nidhogg
soltou sua mão. Tristan começou a levitar.
“Frio...frio...”.
Tristan estava flutuando, envolto por um casulo de
sombras.
—
Espero que ele sobreviva. —
Nidhogg disse. Ele começou a rir sozinho.
De repente, o casulo se rachou e Tristan caiu no chão de
joelhos. Ele trajava uma armadura negra agora. Seus olhos agora tinham um tão
vermelho vivo. Seus cabelos eram tão negros quanto o céu daquela noite. O jovem
levantou a mão e absorveu seu casulo de trevas.
—
Vejo que deu tudo certo. —
O deus disse, satisfeito.
—
Eu...
—
Você está ótimo, não?
—
Sim.
“Todo
esse poder dentro de mim que eu sinto agora...nossa! E essa armadura!
Eu...eu...”
—
Eu não imaginava que as Trevas seriam assim...tão boas. — Disse Tristan, sorrindo.
Nidhogg riu.
—
Mas é claro que são! Se não fossem, eu não estaria assim tão feliz todos os
dias da minha vida, desde cinco mil anos atrás!
“Ponto válido”.
Nidhogg se transformou em trevas, indo na direção dos
bárbaros ainda paralisados. Ele puxou Isolde e a escondeu atrás dos escombros
onde estava anteriormente.
—
Bem...eu vou cancelar o efeito da paralisia nesses bárbaros, mas vou manter em
Isolde. — O deus
disse em um tom sério. —
Não iríamos querer que ela saia de novo do esconderijo enquanto existem
bárbaros capazes de matar-la por perto, não é?
—
Sim.
—
Ótimo. — O Lorde das
Trevas sorriu, extremamente animado. —
Agora, Tristan, mostre-me do que você é capaz de fazer manipulando as Trevas! E
não se esqueça: sua mente é sua melhor arma agora!
—
Trsiatan assentiu, sem muita certeza do que o deus quis dizer. Com um estralar
de dedos, Nidhogg fez com que os guerreiros voltassem a se mover.
“É agora!”.
Tristan estralou os dedos enquanto olhava para o Capitão
inimigo.
“Chamas!”.
Tristan ateou fogo no inimigo, que caiu se contorcendo no
chão. A armadura dele derretia e o fogo começava a queimar sua pele.
“Ótimo! Vamos testar outra coisa agora. Espada!”
Uma espada de um metro de comprimento surgiu em suas
mãos. Sua tonalidade roxa inconstante dava a ela um aspecto ainda mais
pavoroso.
“Hora de testá-la agora!”
Em uma fração de segundos, Tristan se projetou até o
grupo de inimigos graças a sua habilidade de se transformar em sombras.
“Nossa...como é que eu fiz isso?”,
Haviam dois arqueiros e ainda três guerreiros, mas não
por muito tempo. Com corte horizontal, Tristan cortou um dos bárbaros no meio a
partir de um pouco acima da cintura. Rapidamente, virou a lâmina de sua espada
para trás e fincou a arma no peito do guerreiro que estava atrás dele.
“Nunca pareceu tão fácil”.
Tristan riu sozinho, enquanto os arqueiros se
distanciavam para atacar. O guerreiro remanescente atacou verticalmente de cima
para baixo com sua espada. Tristan desviou, transformando-se em trevas e
surgindo atrás do oponente, cravando usa espada nas costas do bárbaro.
“Ótimo...só faltam dois agora”.
Os arqueiros atiraram suas flechas simultaneamente,
atacando pela esquerda e pela direita de Tristan. Rapidamente, ele se
transformou em trevas surgindo na frente do arqueiro que atacou pela direita.
—
Olá! — Disse Tristan
no idioma da Terra no Norte, sorrindo. Com um golpe da espada, decapitou o
arqueiro.
—
Eu desisto! — O outro
arqueiro suplicou. —
Por favor, não me mate!
Tristan surgiu na frente do bárbaro, surpreendendo-o,
fazendo com que o arqueiro caísse.
—
Você espera que eu te poupe? —
A voz do jovem estava cheio de ódio. —
Depois de toda essa destruição!? —
Ele abriu os braços, apontando para toda a cidade. — Depois que o seu povo destruiu minha cidade
e quase arruinou minha vida!? Eu não terei misericórdia de nenhum de vocês!
De repente, o barulho de alguma outra parte de edificação
caindo soou. Era muito perto dessa vez. Uma das paredes do castelo havia
cedido, caindo exatamente onde Isolde estava.
—
Isolde! — Tristan
deixou o bárbaro e se transformou em trevas e rumou aos destroços da parede que
havia caído.
“Não! Não! Não!”
Tristan retirava as pedras amontoadas desesperadamente.
Tirou pedra a pedra. A expressão em seu rosto era de quase loucura. Em
instantes, achou Isolde. Ela já não estava mais viva. O jovem puxou o corpo da
amada e colocou em sua frente. Tristan se ajoelhou perante seu amor. O corpo de
Isolde estava coberto de cortes e machucados devido à queda das pedras. Seu
rosto, apesar dos ferimentos, continuava lindo. Lágrimas caiam agora em seu
rosto. Tristan chorava pela perda de seu amor.
—
Isolde...desculpa...Isolde... —
Tristan não conseguia mais falar. Seus olhos não paravam de verter lágrimas.
—
Tristan. — Nidhogg
havia ressurgido. Ele estava logo atrás do jovem. O deus se ajoelhou ao lado de
seu Escolhido e colocou sua mão no ombro dele. —
Você fez o que você pôde. Não há mais nada a fazer.
—
Mesmo com esses poderes!? Esses poderes que eu tenho agora são inúteis para
trazer minha Isolde de volta!?
—
Infelizmente, sim. Mas talvez eu consiga.
—
Como? Você...poderia trazer ela de volta?
—
Não seria fácil. Nem um pouco. Eu precisaria de tempo e de muita energia. Não é
algo muito viável...mas eu poderia fazer.
—
Então...por favor...faça. Por favor, Lorde Nidhogg!
—
Até que eu gosto de seus bons modos. —
Vamos fazer o seguinte: você já trabalharia como meu Escolhido mesmo, logo,
você deverá trabalhar para mim até quando eu achar necessário. Quando
obtivermos uma vantagem substancial nessa guerra contra a Luz, você pode parar
de ser meu Escolhido. Você me devolverá seus poderes e eu reviverei sua amada
Isolde. Vocês podem viver felizes para sempre. Poderão até morar no meu palácio
se quiserem. Mas já aviso: não espere moleza. Estamos travando uma guerra
milenar contra a Luz. Você lutará até suas forças se exaurirem se for preciso.
Entendeu?
—
Sim. — Tristan
enxugava as últimas lágrimas do rosto. —
Por Isolde, sim.
—
Ótimo. — Nidhogg
sorriu. — Agora
coloque sua mão no meu ombro. Vou te dar uma carona até minha cidade dessa vez.
Depois, você está por sua conta.
Os dois se transformaram em sombras e desapareceram, rumo
à cidade de Nidhogg, a capital do Império das Trevas.
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